Somente quando o vírus nos encerra em nossas casas e limita nossos movimentos percebemos como é triste a solidão forçada. Quando nos privam da cotidianidade nos sentimos escravos, porque o homem nasceu para ser livre
Por JUAN ARIAS, Do El País
A imagem mais dramática e terna, que simboliza ao mesmo tempo a tristeza e a solidão do isolamento ao qual a loucura do coronavírus está nos arrastando, é a dos italianos, habitantes de um país da arte, do tato e da comunicação, que hoje cantam nas janelas das casas diante de ruas e praças vazias. Cantam para consolar os vizinhos encerrados em suas casas. Os lamentos de suas vozes são o símbolo da dor evocada pelos tristes tempos das guerras e dos refúgios contra os bombardeios.
Mas é às vezes nos tempos das catástrofes e do desalento, das perdas que nos angustiam, que descobrimos que, como dizia o Nobel de literatura José Saramago, “somos cegos que, vendo, não veem”. Descobrimos, como uma luz que acende em nossa vida, que éramos cegos, incapazes de apreciar a beleza do natural, os gestos cotidianos que tecem nossa existência e dão sentido à vida.
A pandemia do novo vírus, por mais paradoxal que pareça, poderia servir para abrir nossos olhos e percebermos que o que hoje vemos como uma perda, como passear livres pela rua, dar um beijo ou um abraço, ir ao cinema ou ao bar para tomar uma cerveja com os amigos, ou ao futebol, eram gestos de nosso cotidiano que fazíamos muitas vezes sem descobrir a força de poder agir em liberdade, sem imposições do poder.
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