O corpo objeto e o corpo abjeto

Para as mulheres, o macho branco relegou o papel secundário. Nunca se interessou pelas suas ideias, somente pelos seus corpos

Por LELÊ TELES, do Brasil 247

Reprodução/ Twitter

Depois de comida, infraestrutura e arma, tudo o mais que o homem produz é discurso.

E agora, mais do que nunca, estão os nossos corpos a falar.

E nós, ocidentais, vivemos no simulacro da narrativa do macho branco. Para essa finalidade, chegou-se ao cúmulo de se Inverter até o princípio da criação.

Criaram um improvável Adão, grávido, e o fizeram parir Eva.

Só para ele vir primeiro, e para depois ela estragar tudo.

Deus, que é um cara, selou um pacto com Abraão e não com Sara.

Depois, entregou as leis a Moisés, outro cara. Foi Noé que nos salvou do Dilúvio e Jesus nos redimiu de todos os nossos pecados. Por isso, na trindade temos pai, filho e Espírito Santo.

Nenhuma mulher.

Para as mulheres, o macho branco relegou o papel secundário. Nunca se interessou pelas suas ideias, somente pelos seus corpos.

Por isso, a filosofia, a religião, as artes e as ciências de modo geral não lhes deram ouvidos.

Na arte antiga as mulheres eram as musas e as modelos, e os seus corpos redondos e sinuosos inspiravam. Agora, vivemos a ditadura do corpo esbelto.

O diabo é que é ele novamente, o macho branco, o estilista, quem determina as dimensões do shape feminino.

A publicidade – a esmagadora maioria dos redatores é formada por machos brancos – faz da mulher magra o corpo objeto. Da gorda, o corpo abjeto.

As magras se objetificam e se felicitam com o novo corpo que lhes impõem. Vomitam, correm, pulam, se esticam, tomam pílulas, se drenam.

As gordinhas, igualmente reificadas, antes musas e sinônimos de beleza, agora sofrem com o desprezo do mundo, com a indiferença do simulacro criado pelo macho branco.

Todas querem caber em uma calça 38, tendo elas 1 metro e 60 ou 2 metros e 30 de altura.

Dizem que agora elas começam a assumir o protagonismo ocupando espaços de poder, antes lugar exclusivo do macho branco. No entanto, não nos esqueçamos, tudo é discurso.

Quando negros e mulheres começam a ocupar um lugar de poder, pode estar certo de que o poder já não está mais naquele lugar.

Dilma é a presidenta, dia e noite ouvimos dizer que quem manda no governo é o Lula. Depois nos disseram que quem manda é o Joaquim Levy. Agora afirmam que quem realmente governa é Eduardo Cunha e Renan Calheiros.
Nunca ela.

E é o macho branco, dono de todos os grandes conglomerados de comunicação neste país, quem constrói esse discurso.

Nos Estados Unidos há mais negros encarcerados que outrora houvera escravizados. Os libertaram para depois prendê-los.

Matin Luther King e Malcom X lutaram para que um dia o negro ocupasse o poder e mudasse essa realidade.

Lá está Obama, e seus irmãos negros não só continuam no cárcere como agora são alvejados pelas ruas a sangue frio e à luz do dia.

Assim que deixar a Casa Branca, Obama se transformará, automaticamente, em um alvo.

Para o esporte e a indústria pornográfica, os corpos dos negros são objetos. Para caminharem livres pelas ruas, seus corpos são abjetos.

Quem veste e quem despe a mulher?
São os homens quem determinam o que pode e o que não pode, quando se trata das vestes femininas. No oriente, o chador, a burqa, o hijab e o niqab escandalizam os ocidentais.

Mas as nossas freirinhas andam quais muçulmanas, cobertas da cabeça aos pés e a gente finge que não as vê.

As vestes da Madre Superiora são até sinal de respeito e recato. Nas muçulmanas, o mesmo traje é sinal de submissão.

Tudo é que questão de discurso, de ponto de vista.
Os homens fazem de tudo para ver os seios das mulheres em locais públicos.

As blusas transparentes ou decotadas são o fetiche de todos os homens.

Mas basta elas estarem amamentando para que os seios à mostra se tornam inconvenientes e agressivos. Sem a atração sexual, o corpo objeto se torna abjeto.

E é o macho branco, sempre, quem determina onde e como ele é objeto e onde e como é abjeto.

Quando isso vai mudar?

Palavra da salvação.

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