No dicionário modéstia aparece como ausência de vaidade em relação ao próprio valor, as conquistas, realizações, etc. Por muitos anos procurei esse lugar, essa ausência de uma vaidade que me parecia errada.
Mas quem ensinou que me sentir vaidosa em relação a MIM era errado? Quem disse que eu não poderia me sentir bonita e desejável? Que não era correto pensar enquanto uma mulher passível de despertar olhares?
E sim, esse texto propõe uma reflexão sobre beleza. Sentir-se incrivelmente linda, sexual, ATRAENTE. Adjetivos que o racismo afastou de nós desde nosso primeiro contato com um mundo construído por e para pessoas brancas.
Sim, nós já entendemos que autoestima não tem relação só com aparência física. Sabemos que tem a questão de pertencimento, de inteligência e várias outras questões que constroem a forma como nós nos relacionamos conosco mesmo e com mundo.
Quando falamos de nossas experiências enquanto pessoas (principalmente mulheres) negras na escola, não é raro ouvirmos, (parafraseando Djonga), que no quesito beleza ganhávamos a pior nota. Sempre éramos legais, engraçadas, inteligentes, MAS NUNCA bonitas.
Então, de repente, alguém começa a nos achar atraente. E isso vira uma confusão na nossa cabeça. Eu? bonita? As dúvidas e inseguranças que o racismo nos causou começam a martelar.
Por isso afirmo. Modéstia é algo que pessoas brancas criaram para fazer com que nós nos envergonhemos de nos sentir bem com nossa aparência. Porque para branquitude existe um limite de até onde podemos ir. Do que ela julga ser aceitável em como nos sentimos, como nos vestimos, falamos, amamos.
Tento trabalhar diariamente na terapia, a importância de não me sentir mal por me sentir bonita e, para além disso, não deixar que minha autoestima seja ditada pelo olhar branco do outro. Eu SOU bonita e não preciso da validação de uma sociedade que tentou e tenta a todo custo negar isto.
Não é fácil. Há dias mais complicados que outros, mas não desistir de pensar e construir o que eu realmente sou vai me fortalecendo. Desta forma compreendemos também a importância de ajudar na construção da autoestima de nossas crianças negras.
Nos sentir confiantes com nossa aparência não deixa de ser também, uma forma de resistência.