O fenômeno humano e social da morte & Elisabeth Kübler-Ross

Elizabeth Kübler-Ross (1926-2004), psiquiatra suíça, se formou em medicina em 1957, na Universidade de Zurique, na Suíça. Casou-se com o médico norte-americano Emanuel Ross, que se formou também em Zurique. Fez psiquiatria no Hospital Estadual de Manhattan, em Nova York. Trabalhou na Universidade do Colorado, em Denver (1963); e na Universidade de Chicago (1965). Até 1991, recebeu 28 doutorados honoríficos de várias universidades do mundo!

Por Fátima Oliveira, do O Tempo 

Durante voluntariado no pós-Segunda Guerra Mundial, visitou o campo de concentração Maidanek, na Polônia. Sensibilizada pelos inúmeros desenhos de borboletas nas paredes – expressão do sonho de liberdade de gente marcada para morrer –, decidiu estudar a morte como fenômeno humano e social; e a borboleta se converteu em símbolo de suas investigações médicas.

No hospital da Universidade de Chicago, não concordando com os maus-tratos aos enfermos Fora de Possibilidade Terapêutica (FPT), iniciou sua dedicação a eles até que viraram sua agenda única, revolucionando a abordagem a tais doentes: atenção real, sobretudo tempo de escuta. Tal postura foi rechaçada pelos colegas de trabalho.

Decidiu organizar seminários nos quais doentes terminais, voluntariamente, davam declarações sobre como viviam aqueles momentos versus a impotência da medicina. Concluiu que “a medicina tem limites, um fato que não se ensina na faculdade”.

Médicos em geral, imbuídos do dever de curar, não demonstram interesse em doentes FPT, pois também são adestrados, no mundo, ao cumprimento da tática de triagem de guerra: cuidar primeiro de quem tem possibilidade de sobreviver!

“Morrer é parte natural da vida, que é finita. Somos programados para morrer, mas temos o direito de não morrer antes do tempo e a morrer com dignidade” (“Duvanier Paiva Ferreira morreu à míngua; terá sido em vão?”, O TEMPO, 31.1.2012). “A morte e o morrer são temas instigantes da bioética, a ética da vida”, e “Morrer é o destino igualitário e inexorável do ser humano” (O TEMPO, 4.11.14). Lidar com a morte ainda é complexo e complicado para muita gente.

Em 1968, os Seminários Elisabeth Kübler-Ross converteram-se em cursos oficiais, e, sem dúvida, a semente do que hoje denominamos “cuidados paliativos” foi plantada neles. Ela é pioneira da tanatologia (ciência que estuda a morte), tendo dedicado sua vida às pesquisas com pessoas portadoras de doenças incuráveis, em estágio terminal e sobreviventes de “quase morte”. Realizou mais de 20 mil entrevistas com “desenganados” e “ressuscitados”.

Escreveu dois livros que abordam a morte: “Sobre a Morte e o Morrer” (Martins Fontes, 1966) e “A Roda da Vida” (Sextante, 1998). Em “Sobre a Morte e o Morrer” é apresentado o modelo de Kübler-Ross: “descrição dos diferentes estágios do processo de morrer, embora se apliquem à maneira como lidamos com qualquer tipo de perda”. Dizia que nem sempre ocorrem nessa ordem e nem todos são vivenciados por todos os moribundos, mas todos apresentarão pelo menos dois.

Ei-los: 1º) negação da doença, visando amortizar o impacto do diagnóstico; 2º) revolta por estar doente; 3º) barganha, via promessas, para negociar a cura com Deus; 4º) depressão: se as promessas não se materializam em cura, entra em depressão; 5º) aceitação: “cai na real”, tem uma doença para a qual não há tratamento curativo e reconhece a finitude da vida. Parece ser o estágio mais tranquilo: espera a morte chegar com alguma serenidade.

Obrigada, Elisabeth Kübler-Ross, também por ter dito que “a lição mais difícil de aprender é o amor incondicional”.

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