O macho e a falta de jeito para acabar a relação

Seja um casamento seja um rolinho primavera. Homem não tem a manha.

Por Xico Sá

Por que o homem não sabe acabar direito uma história? Fora Esopo, que ainda nos deixa uma moralzinha de presente, nenhum macho sabe concluir uma narrativa -digo nenhum mais deve ter uns dois ou três lá na minha terra. Só no Crato!

A modinha agora é terminar por mensagem de texto. Indolor. Modinha de macho, óbvio. O medo do goleiro diante do choro. Mal sabem que as lágrimas das raparigas são coquetéis sem alcool, como diz o amigo ultramarinho Miguel Esteves Cardoso no seu livro “O Amor é Fodido” (ed. Assírio & Alvim).

A modinha é até acabar pelo Instagram, como me alerta aqui esse colosso de moça chamado Nick Lanis. Repare na falta de vergonha desse menino, leia isso.

Juntei aqui umas 30 mensagens de leitoras sugerindo o tema. No que me manifesto, com fragmentos de textos que já escrevi sobre o assunto e algum frescor de reciclagem. Urge.

Sim, homem é frouxo, só usa vírgula, no máximo um ponto e virgula; jamais um ponto final.

Sim,  o amor acaba, como sentenciou a mais bela das crônicas de Paulo Mendes Campos: “Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar…”

Acaba, mas só as mulheres têm a coragem de pingar o escandaloso ponto poroso da caneta-tinteiro do amor. E pronto. Às vezes com três exclamações, como nas manchetes sangrentas de antigamente, jornal da morte, SANGUE, SANGUE, SANGUE, como cantava o Roberto Silva na música regravada lindamente pela Nação Zumbi.

Sem reticênciasm, faz favor, seu cronista.

Mesmo, em algumas ocasiões, contra a vontade. Sábias, as mulheres sabem que não faz sentido a prorrogação, os pênaltis, deixar o destino decidir na morte súbita.

O homem até cria motivos a mais para que a mulher diga basta, chega, é o fim!!!

O macho pode até sair para comprar cigarro na esquina e nunca mais voltar. E sair por ai dando baforadas aflitas no king-size do abandono, no continental sem filtro da covardia e do desamor.

Mulher se acaba, mas diz na lata, sem metáforas.

Melhor mesmo para os dois lados, é que haja o maior barraco. Um quebra-quebra miserável, celular contra a parede, controle remoto no teto, óculos na maré, acusações mútuas, o diabo-a-quatro.

O amor, se é amor, não se acaba de forma civilizada.

Nem aqui nem Suécia.

Se ama de verdade, nem o mais frio dos esquimós consegue escrever na neve o “the end” sem pelo menos uma discussão que amplie o aquecimento do planeta.

Fim de amor sem baixarias é o atestado, com reconhecimento de firma e carimbo do cartório, de que o amor ali não mais sentava praça.

O mais frio, o mais cool dos ingleses estrebucha e fura o disco dos Smiths, I Am Human, sim, demasiadamente humano esse barraco sem fim, amém.

O que não pode é sair por ai assobiando, camisa aberta, relax, chutando as tampinhas da indiferença para dentro dos bueiros das calçadas e do tempo.

O fim do amor exige uma viuvez, um luto, não pode simplesmente pular o muro do reino da Carençolândia para exilar-se, com mala e cuia, com a primeira costela ou com o primeiro mancebo que aparece pela frente.

Faça como o cara aí do filme “Alta Fidelidade” (foto), sofra dignamente, mas também não precisa exagerar. Isso passa.

Fonte: Xico Sá

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