O manicômio em que se transformaram as manifestações pró-golpe. Por Paulo Nogueira

O que passa pela cabeça de um cidadão que veste uma jaqueta metade Brasil, metade Estados Unidos, e põe sobre a cabeça uma cartola que retrata a bandeira dos Estados Unidos?

Por Paulo Nogueira, do DCM

Quando o fotógrafo Igor Verzola gentilmente me enviou fotos dos protestos de domingo na Paulista, foi naquele homem que me detive.
Para mim, ele é o símbolo dos manifestantes de São Paulo, a versão paulistana do Batman do Leblon.

Está na cara que ele não tem noção de nada, ou não se vestiria de uma forma tão grotesca.

Os vários vídeos que vi dos protestos pelo impeachment, e não falo apenas dos deste domingo, me deram a sensação de que parte do Brasil se transformou num imenso manicômio.

Você ouve as pessoas falando e se pergunta: em que planetas esses caras vivem? Já leram um livro? Onde será que eles se informam, ou melhor, de onde tiram os absurdos que reproduzem aos berros em sua ignorância entusiasmada?

Eles falam em comunismo num estado total de cegueira. Num vídeo, uma mulher de uns 40 anos afirmava, terminante, que já estamos numa ditadura comunista.

Ora, ora, ora.

Ela faz ideia do que aconteceria com ela caso, de fato, vivêssemos numa ditadura comunista? Quantos minutos ela sobreviveria na rua insultando histericamente um ditador comunista como o Stálin que aparecia no cartaz que segurava? Dez, quinze, vinte minutos?

Uma outra senhora bradava que os políticos têm que fazer o que o povo quer: derrubar Dilma. Pouco mais de um ano atrás, o povo elegeu democraticamente Dilma. Mas a senhora, transtornada, falava em nome do povo como se tivesse uma procuração de cada um de nós.

O único raio de sol num céu brutalmente cinzento veio do vídeo de um rásta que carregava um cartaz antigolpe na Paulista.

Cercado de manifestantes furiosos, ele explicava, sem erguer a voz, que estava ali defendendo não um partido, mas a democracia.

Clap, clap, clap. De pé.

Porque se trata disso, afinal: defender a democracia. Proteger 54 milhões de votos.

Perto dele, uma mulher gritava que a família de Lula tinha enriquecido. Aí você pode traçar a origem das pseudoinformações: a imprensa. A imprensa é mãe de boa parte das pessoas que pedem o impeachment.

Você observa o nível dos filhos da mídia pelos múltiplos vídeos que documentam as manifestações. São verdadeiros idiotas, mais que simplesmente analfabetos políticos.

Fora das ruas, você pode encontrá-los nas seções de comentários dos sites das grandes empresas jornalísticas. Neles, vomitam imbecilidades, preconceitos, xingamentos e uma descomunal, inexcedível burrice.

Do ponto de vista icônico, poucos superam o homem fantasiado de Brasil-Estados Unidos.

Qual é sua mensagem? Que o Brasil deveria tornar-se mais um estado americano? Que deveríamos trocar o português pelo inglês?

Não consigo, francamente não consigo imaginar um tipo destes num escritório trabalhando para ganhar o pão de uma família. Ou fazendo qualquer coisa minimamente racional.

Viramos um manicômio. Não totalmente, é verdade. O rásta que defendia solitariamente a democracia na avenida Paulista nos dá a esperança de que há ainda lucidez no Brasil — mas você dificilmente vai achá-la nas manifestações pelo golpe.

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