A mulher da classe C não aceita ser cabide de nenhum estilista”. A afirmação é de Renato Meirelles, Sócio-diretor da empresa de pesquisas Data Popular.
O poder de compra da nova classe C não passou despercebido por quem dita – e vende – o que vamos usar. Essa classe no ano passado movimentou um trilhão de reais no Brasil. Para você entender como isso é grande, se a classe C fosse um país, em termos de consumo entraria para o G20 como um dos mais ricos do mundo.
Os gastos com moda por esse grupo cresceram 153% nos últimos dez anos. Mas Renato afirma que a elite ainda não percebeu como a classe C pensa diferente na hora de comprar roupas. Enquanto o consumidor das classes A e B busca exclusividade, tem vergonha de dizer que comprou com desconto e gosta de ostentar, a nova classe média mostra-se mais fiel às marcas, orgulha-se de comprar por preços promocionais, busca inclusão e tem prazer em oferecer coisas para a sua rede de amigos e familiares.
As marcas de grife têm feito esforços para dialogar com a nova classe C?
As marcas de grife costumam seguir duas linhas. Elas mostram algumas peças nas semanas de moda do mundo inteiro, nas passarelas, mas nas lojas elas começam a ter roupas com uma pegada mais popular. Mas a maior parte das grifes ainda está distante dessa consumidora da classe C. Hoje quem melhor dialoga com elas são as marcas de varejo de moda, que também fazem a sua modelagem . Um exemplo é a coleção da Preta Gil na C&A, que mostra como a marca está antenada com os novos anseios das consumidoras.
Essas lojas estão adaptando as suas peças para pessoas que usam roupas maiores do que os tamanhos 36 ou 38?
O que a gente tem visto é que a mulher brasileira não quer ser cabide, ela quer roupas para o dia-a-dia. Ela não está ali para servir o estilista. A roupa feita pelos estilista é que deve servir essa mulher. Com uma auto-estima elevada e mais dinheiro no bolso, ela busca manequins que fiquem bem nela. Sabemos até mesmo que algumas marcas de varejo mentem no manequim para a mulher se sentir melhor.
Você acha que o segmento de cosméticos dialoga melhor com a classe C?
Esse segmento cresceu mais, porque partiu de uma base muito baixa. Roupa todo mundo já vestia, embora hoje tenham um guarda-roupas maior. Mas dez anos atrás metade das mulheres não tinha grana para comprar condicionador, um creme para o rosto ou para o corpo. E hoje elas já têm. Por isso que o setor de cosméticos cresceu mais que o de moda. Mas todos surfam na mesma onda, que é o poder de compra das mulheres da nova classe média e o crescimento delas no mercado de trabalho.
Essas mulheres já aderiram à internet para acompanhar e consumir moda?
A internet cumpre dois papeis. O primeiro deles é de curadoria. As pessoas aprendem muito na internet, e encontram exemplos. E a segunda linha é o papel do e-commerce, que funciona um pouco diferente. Pro setor de cosméticos a internet é onde as pessoas conseguem encontrar os produtos mais baratos e parcelar em um número maior de vezes. Mas as roupas são mais complicadas, porque ainda temos um grande problema de padronização dos números. Roupa você tem que experimentar.
É possível ter campanhas publicitárias que atinjam ao mesmo tempo as classes A, B e C?
Metade das classes A e B são a primeira geração de endinheirados da família. Seus pais e mães não eram da classe A e B. É uma pessoa que tem a grana da classe A e B, mas o jeito de pensar da classe C. Bolso de A, cabeça de C. Talvez a melhor linha seja focar na classe C, porque assim você ainda atinge metade das classes A e B.
Quais são os maiores erros na hora de fazer publicidade para a classe C?
O maior erro é achar que a classe C quer ser elite. Eles não querem, pois acreditam que a elite é perdulária, joga dinheiro fora, não tem valores familiares. Ela não entende porque com tanto dinheiro no bolso a elite só come no almoço um franguinho com salada. Então se você quiser conquistar a classe C, você não tem que tentar falar que ela é algo que ela não é. Você tem que enfatizar o que ela tem de melhor pra mostrar.
Fonte: Mulher Negra e Cia