Li hoje no O Estado de São Paulo que a maternidade Santa Joana está dificultando partos com acompanahmento de Dolas. Ela e outros hospitais que “fabricam” crianças na linha da produção em série.
Ao mesmo tempo tinha lido logo que acordei este texto da Bianca Santana que segue a partir do compartilhamento da amiga Tica Moreno
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Essas ações do Santa Joana são exemplares do tipo de visão de saúde e de sociedade que deveriam ser combatidas por ações governamentais.
O ministro Alexandre Padilha precisa se posicionar em relação a essas questões e constranger a administração desse hospital. Fazer de conta que não aconteceu nada e que o Ministério da Saúde não tem nada a ver com isso é um péssimo exemplo.
Segue o texto da Bianca.
“Solto e acho bonito. Volto ao espelho e coloco uma faixa. Um pouco mais de tempo e recorro aos grampinhos. “Esse jeito de prender tem uma coisa de negritude, mas é mais preso”, falei na terapia. Na mesma semana, a Maternidade Santa Joana publica um texto RACISTA sob o título “Minha filha tem o cabelo muito crespo. A partir de qual idade posso alisá-lo?” Ah, as sincronicidades da vida… E como a cereja do bolo, nasci no Santa Joana.
Passei anos ouvindo propostas de cabeleireiros para “arrumar” meu cabelo. Arrumar significa alisar ou, no mínimo, “relaxar as ondas”. Minha avó, vítima e algoz do mesmo racismo, prendia o cabelo beeeem puxado pra trás, “pra não parecer essas neguinhas”. Na ingenuidade de criança me perguntava se eu não era mesmo “essas neguinhas”. Obediente, não ousava questionar em voz alta.
E de puxar e puxar o cabelo num rabo de cavalo, nunca tive coragem de soltar o crespo em público. Quando me descobri negra, nasceu o desejo de assumir meu cabelo como uma marca de identidade. Encontrei o Marco Antônio, cabeleireiro incrível, que cortou um black. Detestei! Então ele me ensinou a fazer uns rolinhos, prendendo o cabelo com grampos como se fosse uma tiara, até eu me acostumar com o volume. Nove anos depois ainda não me acostumei. Continuo fazendo os rolinhos diariamente. Diariamente não! Nesses anos, soltei umas três ou quatro vezes.
Com o black liberado, sinto um calor insuportável, não me reconheço com o volume ao redor do rosto e fico desesperada pra prender o cabelo. Desesperada mesmo, não é força de expressão! Começo a suar, sentir taquicardia e uma vontade incontrolável de prender o cabelo. Aí prendo; sinto os músculos relaxarem e um conforto no peito.
Grávida pela terceira vez, imaginava um menina pretinha, com o cabelo bem crespinho pra eu soltar e enfeitar com flores coloridas. Mas a vida me presenteou com uma menina bem branquinha, de olho azul e uma careca de pelugem fininha… Os filhos não nascem mesmo pra dar conta dos desafios dos pais… Minha questão com o meu cabelo é obviamente minha. Mas também é de todos nós, brasileir@s, que assumimos o liso e o loiro como padrão de beleza.
Em 2011, esperava um vôo em Paris quando puxei papo com uma portuguesa. Ela ficou muito surpresa porque eu falava a língua dela. “É a minha língua também, sou brasileira”, anunciei. “Mas como? Com esses cabelos crespos? Toda brasileira tem cabelo liso!” Reparei no mar de mulheres que esperava os vôos pra São Paulo e pro Rio. A portuguesa tinha razão.”
Quando me descobri negra por Bianca Santana
Maternidade é acusada de racismo após texto sobre alisamento
Fonte: Blog do Rovai