O sonho que não é meu.

Não me dou com fogão e confesso que nunca fiz lá muita questão de aprender. Não, nem um arroz eu sei fazer. E um dia uma tia disse que ”ora, mas você precisa aprender modo que quando for casar tem que saber cozinhar.” Minha cabeça sempre fazia nós e eu perguntava a mim mesma se eu não querer casar, o que serei? O meu eu – destinado a ser esposa- o que será se esse desejo não brotar em mim? E se eu não quiser que brote? Lembro que minhas amigas no ensino médio diziam que tinham o sonho de entrar em uma igreja, de branco e tudo o mais. Uma até dizia que queria realizar esse desejo até os vinte e cinco anos de idade. E minha mente não conseguia acompanhar aquilo, o brilho em mim não acendia e desde que me entendo por gente não tenho vontade de me casar. Claro que o fato de testemunhar o casamento tão despedaçado de meus pais pode ter alguma influência sobre mim. Mas é muito mais que isso. Está em mim. Em mim.

Enviado por Lorrayne Lima Gonçalves via Guest Post para o Portal Geledés 

Respeito muito quem tem esse sonho, e gostaria que respeitassem o fato de eu não o tê-lo. ”Você fala isso agora mas depois muda de ideia quando achar alguém.” Posso achar alguém mas porque terei que casar com ele? Não posso me achar e casar comigo mesma? Minha felicidade terá sempre que estar prolongada em um outro? O meu eu não é o bastaste para mim? Foi quando me senti abraçada pelas personagens clariceanas. Aquelas que, como no conto ”Amor”, mesmo casada procura por algo mais. Como em ”Obsessão” e em tantos outros. Alguém pensa como eu, foi minha reação. Essas mulheres enxergaram que seu ápice não foram o casamento e querem um outro papel, aquele que a sociedade não dá e que não a permitem ter. Se seu auge for o casamento, repito que respeito e respeito muito o seu ponto de vista. Mas deixe-me pensar ao meu modo.

Não crie formas para mim pois minha vida é como é como aquele poema de José Régio: ” … um vendaval que se soltou,/ É uma onda que se alevantou. Não importa se daqui a dez anos eu pensarei diferente, o importante é o que penso agora. E mesmo daqui a uma década, ouso a dizer que é bem provável que eu ainda não saiba cozinhar.

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