O terrorismo religioso não expressa o Deus de amor

Professar ou não uma fé religiosa é uma questão de foro íntimo. E, no Brasil, um direito constitucional. As religiões são muitas, logo, o “mercado religioso” é vasto. Repito: considero todas as religiões bélicas, perpetuadoras do patriarcado e contra o “faça amor, não faça guerra!”; e ilustro com as “guerras santas” das “grandes religiões” monoteístas – cristianismo, islamismo e judaísmo –, desde os primórdios, em nome de Deus!

Por Fátima Oliveira, no O Tempo
Possui variações do mesmo tema o terrorismo religioso de vertente islâmica: o atentado à revista “Charlie Hebdo”, na França (7.1.2015), que matou 17 pessoas e feriu várias; o suicídio/assassinato (?) do promotor federal argentino Alberto Nisman (18.1.2015); e o assassinato de mais de 2.000 pessoas pelo grupo islâmico Boko Haram, entre 3 e 7 de janeiro passado, em Baga, no Estado de Borno, na Nigéria, tangenciado pela mesma mídia que já se esqueceu das 276 estudantes nigerianas raptadas pelo Boko Haram, em 14.4.2014, e que não voltaram para casa até hoje (“As sequestradas nigerianas abandonadas pelo mundo”, O TEMPO, 13.5.2014).

Ao mencioná-los como tendo um elo comum, o susto foi ouvir de uma das interlocutoras, de ascendência libanesa: “A minha turcaiada, hein?!”. Eis o fio da meada: no Maranhão é comum, sem turcofobia nem islamofobia, chamar de turco qualquer povo árabe – que tem a língua árabe como oficial. Por um motivo elementar: imigrantes da Síria e do Líbano, países árabes, eram registrados no Brasil, até 1921, como “turcos” porque tais países estavam sob o domínio do Império Turco-Otomano, que durou de 1299 a 1922. E, para desembolar o meio de campo, urge entender que nem todo árabe é islâmico ou muçulmano, vocábulos sinônimos que declaram que uma pessoa é fiel ao islamismo, a religião que mais cresce no mundo. Pontuo que, como no cristianismo e no judaísmo, nem todo islâmico é fundamentalista!

O que o promotor federal argentino Alberto Nisman tem a ver com a belicosidade que digo ser inerente às religiões? Ele investigava o atentado, em 1994, à Amia (Associação Mutual Israelita Argentina), em Buenos Aires, que matou 85 pessoas. Em 2004, o presidente argentino Néstor Kirchner criou uma promotoria específica para o caso, a cargo de Nisman, que em 25.10.2006 acusou o Irã de ter contratado o Hezbollah para executar o atentado. Um ano após, a Argentina solicitou à Interpol a prisão para cinco acusados iranianos. Em setembro de 2009, a presidente Cristina Kirchner, na Assembleia Geral da ONU, exigiu do Irã a extradição dos funcionários indiciados. Em vão!

Em janeiro de 2013, a “Argentina e o Irã assinam um memorando de entendimento para tentar avançar com o processo. O acordo, vetado pelos parlamentares opositores e denunciado como ‘inconstitucional’ pela Amia, considerava a criação de uma Comissão da Verdade integrada por cinco juristas internacionais e que a Argentina pudesse interrogar no Irã os cinco imputados”.
Dois anos após, em 14.1.2015, “o promotor Nisman acusou a presidente Cristina Kirchner e seu chanceler Héctor Timerman de encobrir o Irã no atentado contra a Amia e pediu que ela fosse interrogada”. Nisman era protegido por dez guarda-costas, que não valiam um “derréis”, pois, quatro dias depois, foi encontrado morto em seu apartamento, e até agora não se sabe se foi suicídio ou assassinato, mas o caso está repercutindo densamente no debate eleitoral. A pergunta central é: a quem interessava a morte do promotor? Há um cadáver “robusto” na corrida presidencial argentina, envolto em um atentado em nome de Deus.

+ sobre o tema

50 anos sem Billie Holiday

Há 50 anos morreu Billie...

Juiz determina saída de Lula após 580 dias da prisão

Ministros decidiram que ninguém pode ser considerado culpado até...

O Brasil real e a imprensa nativa: um desencontro marcado

-"A liberdade de imprensa é um bem maior que...

Pesquisa mostra que brasileiros usam a internet para se informar sobre política

Pesquisa do Instituto Ibope, divulgada nesta quinta-feira, mostra que...

para lembrar

3 mulheres excluídas da sua aula de História do Brasil

Dom Pedro I proclamou a Independência no dia 7...

Refugiadas e Mães: 5 histórias que vão te emocionar

Você provavelmente já sabe, mas não custa repetir: o...

Sara Bonetta Forbes, a princesa africana dada “de presente” para a Rainha Vitória

Nascida por volta de 1843, a futura Lady Sara...

1ª Semana Carolina de Jesus: Mulher Negra e a Cultura Periférica Afro-Brasileira

EVENT DETAILS 1ª SEMANA CAROLINA DE JESUS: MULHER NEGRA E...

A presença de uma Juíza Negra no STF é uma questão de coerência, reparação histórica e justiça

A Constituição Federal, estabelece como objetivo da República Federativa do Brasil: promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade...

A luta por uma ministra negra

Nas últimas semanas, parte da militância virtual petista passou a atacar duramente o humorista Gregorio Duvivier por sua defesa da nomeação de uma mulher negra para...

Racismo escancarado

Duas décadas atrás, na esteira da Conferência Mundial contra a Discriminação Racial, em Durban (África do Sul), um conjunto de organizações da sociedade civil,...
-+=