Um dia depois da derrota histórica de seu partido na Câmara dos Representantes (deputados federais), o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse nesta quarta-feira que o resultado das eleições legislativas mostra a frustração dos americanos com a economia e que ele, como líder, assume a responsabilidade por esse sentimento.
“A votação de ontem (terça-feira) confirmou o que eu ouvi de pessoas ao redor da América”, disse Obama, em entrevista coletiva na Casa Branca nesta quarta-feira.
“As pessoas estão profundamente frustradas com o ritmo da nossa recuperação econômica”, afirmou. “Elas querem que os empregos venham mais rápido.”
Dois anos após chegar à Casa Branca com altos índices de popularidade e como símbolo de esperança e de promessa de mudança, Obama admitiu que muitos americanos ainda não sentiram essa mudança.
“Nos últimos dois anos, nós fizemos progresso. Mas claramente muitos americanos não sentiram esse progresso ainda, e eles nos disseram isso ontem. Eu, como presidente, assumo a responsabilidade por isso”, disse.
Obama também repetiu a afirmação feita na noite anterior de que pretende sentar com membros de seu partido democrata e da oposição republicana para discutir a melhor forma de trabalhar em conjunto e pediu um debate civil “honesto” sobre a melhor maneira de avançar.
Resultados
Na eleição de terça-feira estavam em jogo todas as 435 cadeiras da Câmara dos Representantes e 37 das cem vagas no Senado. Os americanos também elegeram governadores em 37 dos 50 Estados.
O Partido Democrata perdeu 60 cadeiras da Câmara dos Representantes para o Partido Republicano.
A apuração dos votos ainda está em andamento em algumas partes do país. Com resultados definidos para 424 das 435 cadeiras da Câmara, os republicanos já garantiram 239 vagas, conquistando assim o controle da Casa.
Essa virada no comando da Câmara é considerada a maior desde 1948, quando os democratas ganharam 75 assentos da oposição.
Na disputa pelo Senado, o Partido Democrata também perdeu pelo menos seis cadeiras antes em seu poder para os republicanos, mas ainda assim conseguiu manter uma estreita maioria.
Reforma da saúde
Com a perda da maioria na Câmara pelos democratas, o Congresso fica dividido, e Obama deverá enfrentar dificuldades para aprovar propostas nos dois anos finais de seu mandato.
Pouco antes do pronunciamento de Obama, o líder republicano na Câmara dos Representantes, John Boehner, que deverá assumir a presidência da Casa, disse que um dos objetivos de seu partido será reverter a reforma do sistema de saúde.
Essa reforma, aprovada em março deste ano, é considerada o projeto mais importante do governo Obama até agora, mas enfrenta rejeição dos republicanos.
“Eu acredito que a reforma da saúde vai acabar com empregos, arruinar o melhor sistema de saúde do mundo e levar nosso país à falência”, disse Boehner.
Obama afirmou que pretende ouvir sugestões sobre a lei.
“Se os republicanos tiverem ideias sobre como melhorar nosso sistema de saúde, se quiserem sugerir mudanças que signifiquem uma reforma mais rápida e eficaz para um sistema de saúde que tem sido extremamente caro, ficarei feliz em considerar algumas dessas ideias”, disse.
Tea Party
A rejeição à reforma da saúde e a busca de redução dos gastos do governo são propostas defendidas por vários candidatos republicanos vitoriosos que tiveram o apoio do movimento conservador Tea Party.
No cenário de frustração do eleitorado americano com a economia e a alta taxa de desemprego – que há meses permanece em torno de 10% – estas eleições legislativas foram marcada pela ascensão do Tea Party.
O movimento – que não é um partido político – reúne centenas de grupos conservadores espalhados pelos Estados Unidos e prega a redução dos gastos do governo e da presença do Estado na economia, além de se opor a praticamente todas as políticas do governo Obama.
Em seu pronunciamento, Boehner disse que os eleitores americanos votaram por um governo menor e que a nova maioria republicana vai tentar “um novo caminho em Washington”.
Obama, porém, afirmou que nenhum partido tem “o monopólio da sabedoria”.
“Com tanto em jogo, o que o povo americano não quer de nós, especialmente aqui em Washington, é que gastemos os próximos dois anos lutando de novo as batalhas dos últimos dois”, disse.