Fonte: Folha de São Paulo
Por Sérgio Dávila
Entre hoje e amanhã, presidente vai ao ar em seis programas na TV americana, entre eles o “talk show” de David Letterman
Nesta semana, democrata vai à Assembleia Geral da ONU e à reunião do G20, com status diminuído em relação ao de há poucos meses
Barack Obama dá entrevista a George Stephanopoulos, da ABC, parte de sua ofensiva midiática para retomar agenda hoje controlada pela oposição republicana
Barack Obama começa a semana seguindo a máxima que muitas vezes ajudou
sua campanha vitoriosa à Casa Branca: se você não gosta do que está sendo falado,
mude o assunto. Hoje, o presidente americano aparecerá em entrevistas a cinco
programas de TV diferentes no mesmo dia, um feito inédito. Amanhã, fará uma
participação no “talk show” de David Letterman, o primeiro ocupante do cargo a fazer isso.
As entrevistas de hoje aos programas noticiosos dominicais das três principais emissoras abertas norte-americanas, ABC, CBS e NBC, mais a CNN e a hispânica Univision, foram dadas na sexta. A gravação no programa de Letterman é amanhã, em Nova York. Elas se seguem a conversas recentes com a emissora financeira CNBC e o site Bloomberg. A blitz serve a um propósito: o democrata quer retomar o comando da agenda política do país, hoje nas mãos da oposição.
Segundo trechos já vazados à imprensa, nas entrevistas o democrata rejeita que o racismo seja o motor das críticas que vem recebendo mais e mais frequentemente nas últimas semanas, acusação feita pelo ex-presidente Jimmy Carter e repetida por políticos e analistas do país inteiro. “Há pessoas que não gostam de mim por conta de minha raça?”, pergunta-se retoricamente na entrevista à CNN. “Tenho certeza de que há, mas essa não é a questão predominante aqui.”
Há duas semanas, enquanto defendia seu projeto de reforma do sistema de saúde pública numa sessão conjunta do Congresso americano, Obama ouviu do representante (deputado federal) republicano sulista Joe Wilson a frase “Você mente!”. O ato descortês e incomum foi tanto um exemplo da divisão política em que encontra o país oito meses após a posse quanto um detonador da discussão sobre o peso do fator racial nessa divisão.
A questão real, segundo defendeu Obama em entrevista à CBS, é que ele quer fazer reformas amplas e profundas em setores importantes da sociedade, como o da saúde pública, e isso suscita reações. “O que está conduzindo as paixões agora é que a saúde pública virou um substituto para um conjunto maior de questões sobre o quanto o governo deveria se envolver na nossa economia.”
Nos encontros, nos quais tenta influenciar o ciclo noticioso de 24 horas da mídia, Obama critica esse mesmo ciclo. Parte da culpa do debate inflamado é dos blogs e TVs pagas, disse ele, que se concentram nos elementos extremos de ambos os lados. “A melhor maneira de se conseguir seus 15 minutos de fama hoje é ser rude com alguém”, afirmou.
ONU e G20
Além disso, a semana também marca a volta do presidente ao cenário global. Na quarta, ele faz sua primeira aparição na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, onde fala logo após o discurso do brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva. Antes, na terça, participa da reunião de mudança climática organizada pelo secretário-geral da entidade, Ban Ki-moon.
Na quinta-feira, parte para Pittsburgh, na Pensilvânia, para a reunião de dois dias com o G20, grupo das 20 economias mais ricas do mundo, Brasil inclusive. Nas três ocasiões, cobrança e oposição devem dar lugar à boa vontade com que foi saudado logo após a posse.
No encontro sobre o clima, terá pouco a apresentar: a discussão da ambiciosa lei que apresentou ao Congresso, em que tenta começar a mudar a matriz energética do país e adotar medidas mais “verdes”, deve ficar para o ano que vem.
Na ONU, terá de defender entre outras coisas seu enfoque para a Guerra do Afeganistão, conflito crescentemente impopular no país e no mundo. Já no G20, realizou pouco da lista de tarefas que os próprios países se deram quando se encontraram em abril, em Londres.
“A estatura do presidente Obama agora não é a mesma de Londres”, disse ao “Wall Street Journal” Ted Truman, do Peterson Institute for International Economics, de Washington. “Obviamente, ele não é mais o “rock star”.”