Olympe de Gouges: feminista, revolucionária, heroína

A história da revolucionária feminista francesa, Olympe de Gouges, contada em quadrinhos é uma grata surpresa.

Por Francine Emilia.

França, 1748. Uma menina nasce, filha de uma mulher possivelmente infiel e possivelmente de um homem de alta posição. A paternidade é assumida pelo açougueiro, marido da mulher talvez adultera, tranquilamente. Uma história bem fácil de se enxergar em qualquer época, e não seria diferente na França as beiras de sua revolução.

No entanto, a história de Olympe de Gouges, exposta em quadrinhos por José-Louis Bocquet e Catel Muller (que também são autores da graphic novel “Kiki de Montparnasse”) se diferencia da maioria. E a história diferente narrada de uma maneira diferente fica ainda mais interessante.. Ao apostar em quadrinhos para contar a biografia de Maria Gouze, os autores tomam o risco de não terem sua obra – com pouco menos de 500 páginas – levada a sério. A surpresa é que o tomo conquista quem o lê: a divisão em capítulos é bem feita e o formato de HQ consegue dar as nuances e contextos necessários a história.

Uma revolucionária dentro da própria revolução francesa, de Gouges faz questão de utilizar-se de seus protetores e amigos para elevar a voz em favor da mulher: escreveu peças abolicionistas, cartas debatendo idéias dos revolucionários e chegou a fazer uma versão da “Declaração dos direitos do Homem e do Cidadão”. Neste último, lança o olhar sobre a mulher, que esteve lado a lado na revolução porém não estava no mesmo nível de igualdade quanto ao poder.

Os traços e as nuances permitidas no formato de quadrinhos conseguem colocar algumas questões de maneira mais natural: desde sua determinação em não se casar depois da viuvez, suas divergências com a revolução até sua influência na carreira do filho. Uma mulher que transitava na sociedade que conseguia usar dos mecanismos da mesma para expor seus pensamentos sobre a revolução.

No entanto, a história que se diferencia da maioria termina de uma maneira semelhante a tantas outras: os revolucionários, no poder, determinaram que Olympe de Gouges era contra-revolucionária. E isso bastou para lhe condenar a guilhotina. A sensibilidade deste desfecho no quadrinho é tocante.

A aposta em uma biografia feminista em um quadrinho de quase 500 páginas foi um risco tomado, mas valeu cada minuto para trazer essa história. Ainda mais em tempos de protestos que estranhamente colocam o feminismo em segundo plano, julgando haver um possível bem maior.

Referência

Olympe de Gouges. Texto e ilustração: José-Louis Bocquet e Catel Muller. Tradução: André Telles. Rio de Janeiro, Editora Record, 2014.

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Autora

Francine Emilia (1989, SP / MG) é paulista de nascimento e mineira de criação. Feminismo recém descoberto, virou nerd por insistência alheia e encontrou na música e na literatura a maneira de mostrar como encara o mundo.

 

Fonte: Blogueiras Feministas

 

 

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