Onde está seu racismo? – Por: Gaby Haviaras

Já estava com a ponta do lápis rascunhando um assunto para esta crônica, até ir ao cinema e ser arrebatada por outro assunto pulsante: racismo. “12 anos de escravidão” me atravessou. Duas horas de lágrimas, tristeza, revolta e muita reflexão. Inefável. Típico filme que deveria ser projetado em praça pública, de graça, aos que quisessem ver e rever a (des) humanidade de homens que tornam outros homens sua propriedade para saciar sua sede de poder e prazer.

Longe de querer fazer uma critica sobre o filme. “12 anos” nos coloca em outro lugar e, já nos primeiros instantes, pergunta: Qual o valor da sua liberdade? Qual o valor da liberdade do outro? Você luta para sobreviver ou para viver? Qual a condição da mulher negra, aos olhos de uma sociedade machista e branca? Porque uma raça se considera superior à outra? Onde se esconde seu preconceito? Onde está o seu racismo?

Ancestralmente, a liberdade está tatuada na pele branca. A pele negra segue acorrentada a uma herança imposta por homens que se acham de casta maior. O filme, corajosamente, mostra maus tratos reais, tortura. O dia a dia de um escravo tratado como propriedade e mercadoria. Quisera fosse um filme sobre uma historia antiga. É triste pensar, durante tais cenas, que ainda há escravidão e discriminação por raça, credo ou gênero. Ainda há racismo velado e entranhado na hipocrisia da moral, justificado pelos bons costumes. Onde está a liberdade? Onde está que ninguém viu?

Homens escravizados por “senhores” sem caráter. Homens sendo propriedade e forçados a um trabalho sem condição alguma, em busca apenas de um fio de vida, mais fino que a corda do açoite. Mulheres nuas vendidas em arroubas, usadas, sem direito a banho, separadas de seus filhos, vendidas na feira como um pedaço de carne podre. Será que hoje é diferente?

Leia os jornais, saia nas ruas e abra seus olhos. Veja, todos os dias, relatos de homens trabalhadores, negros, que são agredidos nas ruas por serem “confundidos” com bandidos. Meninos negros que vão e vem de suas escolas e desviam, quando conseguem, do olhar afiado dos policias prontos para “manter a ordem”. O homem branco, dirigindo um carro, talvez não pare na blitz. O homem negro jamais passará direto. Mulheres negras, que trabalham diariamente em nome da sobrevivência de uma família, o que enfrentam por sua condição de gênero e cor? Procure saber! E fique atento ao seu racismo.

A linda historia relatada no filme não é uma história de ficção e, muito menos, ficou nos livros de história do final do século XIX. Saí desfigurada do cinema, igual às costas da escrava que perde lascas de vida no tronco. E pensando que, especialmente nós brasileiros, descendentes diretos de negros e índios, precisamos rever nossas cores. As cores da bandeira, de nossas atitudes e de nossas almas.

Salve Mandela:

“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar.”

Fica a dica: poesia que escrevi em 2012: “Negra é a cor!”

http://ghaviaras.blogspot.com.br/2012/03/negra-e-cor-da-minha-guerra-reluz-minha.html

Gaby Haviaras

twitter:@gabyhaviaras
ghaviaras.blogspot.com.br

facebook: gabrielahaviarasatriz

Fonte: Floripa News

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