ONU pede apoio internacional para Moçambique após ciclone deixar 400 mil desalojados

Cecilia Borges e seu filho Fernandinho Armindo caminham por um assentamento informal destruído em Beira, Moçambique. Foto: UNICEF/de Wet

O secretário-geral da ONU, António Guterres, cobrou mais apoio da comunidade internacional a Moçambique, onde enchentes e um ciclone na semana passada desalojaram 400 mil pessoas e deixaram outras 259 mortas, segundo dados obtidos por agências das Nações Unidas.

Da Onu 

Cecilia Borges e seu filho Fernandinho Armindo caminham por um assentamento informal destruído em Beira, Moçambique. Foto: UNICEF/de Wet

Em pronunciamento nesta sexta-feira (22), o chefe das Nações Unidas enfatizou que, mesmo com a liberação de 20 milhões de dólares do Fundo de Resposta de Emergências da Organização, mais recursos são necessários para enfrentar as consequências do desastre.

Ao final da semana passada, o ciclone Idai atingiu Moçambique, Malauí e Zimbábue, deixando uma rastro de destruição e morte por onde passou. O território moçambicano foi o mais atingido pela tempestade, que registrou ventos de 150 km/h.

“Com lavouras destruídas no celeiro (região produtora de alimentos) de Moçambique, mais pessoas estão em risco de passar insegurança alimentar em todos os três países. E casas, escolas, hospitais e estradas estão em ruínas”, alertou Guterres.

De acordo com a Organização Internacional para as Migrações (OIM), 259 pessoas foram mortas pelo ciclone em Moçambique e outras 217 estão desaparecidas.

O Programa Mundial de Alimentos (PMA) solicitou a doadores um orçamento de mais de 121 milhões de dólares para levar comida e assistência a 1,7 milhão de moçambicanos pelos próximos três meses.

Segundo o organismo internacional, as províncias de Sofala e Manica foram as mais atingidas, com danos extensivos a estradas e pontes importantes. Essas rotas estão agora intransponíveis. Redes de energia também foram destruídas e o abastecimento, cortado. O PMA afirma que é provável que comunidades fiquem sem eletricidade por várias semanas. A agência está utilizando drones para localizar e ajudar populações isoladas pelas chuvas.

“O PMA e parceiros têm corrido para ajudar dezenas de milhares que perderam tudo, mas conforme a imensa escala do dano está se tornando mais clara, os números de pessoas em necessidade estão aumentando rapidamente, e mais precisa ser feito. O Programa Mundial de Alimentos precisa de apoio financeiro urgente dos governos e indivíduos para alcançar centenas de milhares com assistência imediata capaz de salvar vidas”, afirmou o porta-voz da agência, Hervé Verhoosel.

Em meio à resposta da tragédia, o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA) ressaltou que “muitas áreas permanecem inundadas e, tragicamente, a contagem dos mortos levará algum tempo”. Organizações internacionais estimam que o número de óbitos pode chegar a 1 mil.

O OCHA aponta ainda que 11,4 mil casas foram completamente destruídas e pelo menos 385 mil hectares de lavouras sofreram danos — o que, segundo o organismo, deve afetar a segurança alimentar da população pelos próximos meses.

Na quinta-feira (21), o Instituto Nacional de Gestão de Desastres anunciou que mais de 100 mil pessoas ainda estavam isoladas e sem qualquer assistência em Chimoio, Dombe e outras localidades da província de Manica.

Em Sofala, na cidade portuária de Beira, o epicentro da crise, a situação permanece crítica, segundo o porta-voz do OCHA, Jens Laerke. “A cidade ainda está sem energia, os preços dos alimentos teriam triplicado, com longas filas se formando para (a aquisição de) itens básicos, como pão e combustível”, afirmou o representante.

O escritório de assuntos humanitários da ONU também informou que 11 helicópteros da ONU e outras nações estão sendo utilizados em operações de emergência, com mais veículos a caminho. Outros 30 barcos estão sendo mobilizados para os esforços de resgate e assistência humanitária, por meio de financiamento do PMA.

A brasileira e representante do PMA em Moçambique, Karin Manente, está na linha de frente da resposta humanitária à tragédia do Idai. Em entrevista à ONU News, a profissional da agência da ONU conta o que viu em viagens a algumas das regiões mais afetadas pelas chuvas. Uma das aldeias que sobrevoou estava praticamente submersa, com a água na altura dos telhados das casas.

No Zimbábue, autoridades relataram 139 mortes e 189 desaparecidos após o ciclone e enchentes, com mais de 4,3 mil pessoas deslocadas pelo fenômeno. O PMA estima que 200 mil indivíduos precisem com urgência de doações de comida — uma ajuda que precisará ser mantida pelos próximos três meses.

Embora tenha sido menos atingido pelas chuvas e alagamentos, que tiveram início em 5 de março, o Malauí viu 920 mil cidadãos serem afetados de alguma forma pelas fortes precipitações.

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