Os 4 sinais de machismo mais frequentes no ambiente de trabalho

Para combater as práticas machistas dentro da sua empresa, é importante que as mulheres se unam e não abaixem a cabeça

Por Clara Cerioni, do Exame 

São Paulo – Quase oito anos depois de Barack Obama assumir a presidência dos Estados Unidos, suas assistentes mulheres decidiram acabar com duas práticas comuns na Casa Branca: a constante interrupção de suas falas e a falta de atenção às suas ideias.

Juntas, elas criaram uma estratégia de “amplificação” de vozes: quando uma mulher está falando, as outras ficam atentas para que nenhum homem as interrompa ou proponha ideias já levantadas anteriormente.

O resultado não poderia ser melhor. Além de as mulheres da equipe de Obama conquistarem seu espaço merecido, a iniciativa se espalhou pelas empresas americanas e, aos poucos, ajudou a conscientizar as pessoas sobre o machismo no ambiente corporativo.

No Brasil, o cenário ainda é diferente: as práticas machistas dentro de uma empresa são recorrentes e naturalizadas.

Para Itali Collini, co-fundadora e diretora do Núcleo de Pesquisa em Gênero e Raça da USP (Universidade de São Paulo), as brasileiras sofrem diariamente com o sexismo no trabalho, mas não discutem o tema – e, na maioria das vezes, sequer reconhecem o que vivem.

“É importante lembrar que o machismo está, principalmente, nos pequenos atos. Ele é sutil, passa despercebido e é constante. Por isso é necessário conversar sobre o tema e conscientizar tanto homens quanto mulheres”, explica.

Na mesma linha, Jorgete Lemos, diretora de diversidade da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), aponta para um problema estrutural e histórico da sociedade. “As mulheres foram criadas em uma sociedade machista e, por isso, reproduzem muitos aspectos dela. Para acabar com isso, é preciso desconstruir ensinamentos e não mais abaixar a cabeça”, orienta.

A dúvida, que permanece no universo feminino, entretanto, é como identificar e combater essas práticas.

Uma dica importante para enfrentar atitudes machistas do dia a dia, inclusive quando se transformam em assédio moral e sexual, é reportar essas questões ao setor de Recursos Humanos da empresa.

Para Jorgete Lemos, apesar de o RH aprender aos poucos a importância de seu papel para combater o preconceito, quanto mais o assunto for discutido, mais seguro o ambiente de trabalho ficará para as mulheres.

“O tema precisa conquistar seu devido espaço. É necessário conversar individualmente com os colaboradores das empresas, promover políticas inclusivas e desconstruir antigas ideias sobre homens e mulheres”, conclui.

Outro conselho, dado pela advogada trabalhista Vivian Dias, é sempre que possível ter provas. “Um vídeo, um áudio ou uma testemunha fazem toda a diferença na hora de questionar as atitudes”.

A advogada ressalta ainda que mesmo denúncias quanto a atitudes pontuais precisam ser feitas, já que o empregador não toma conhecimento de muitas situações.

Veja a seguir 4 sinais de machismo muito comuns nas empresas, de acordo com especialistas consultadas por EXAME.com, e aprenda a combatê-las:

1 – Interrupção de fala ou “manterrupting”

Durante as reuniões empresariais é comum que os homens falem mais e interrompam desnecessariamente as mulheres com mais frequência, aponta um estudo da pesquisadora Adrienne Hancock, da Universidade George Washington.

Em ocasiões assim, Collini orienta que a mulher explique que ainda não concluiu sua linha de raciocínio, continue expondo suas ideias e mantenha uma postura afirmativa.

2 – Receber explicações óbvias ou “mansplaining”

Ficar horas ouvindo explicações sobre um tema que você domina é uma situação comum para as mulheres. Com explicações óbvias e “didáticas”, os homens muitas vezes tiram a chance de elas falarem.

A mulher deve esclarecer que conhece bem o assunto em questão, afirma Collini. Se for especialista naquele tema, é importante dizer que fez estudos e sabe bem do que está falando.

3 – Ter ideias roubadas

Outra prática comum no ambiente de trabalho é quando a mulher propõe uma ideia e ninguém lhe dá a devida atenção. Quando um homem tem a mesma iniciativa mais tarde, é elogiado e não reconhece que a ideia era originalmente de sua colega.

Um método eficaz é fazer o que as assistentes de Obama fizeram: estar atenta às situações vividas por cada colega e lembrar os demais quando a ideia inicial foi de uma mulher. Se a sua ideia foi roubada, é possível usar frases como “obrigada por concordar comigo” ou “que bom que você apoia minha ideia”.

4 – Piadas sobre TPM

Quem nunca viu uma atitude mais assertiva das mulheres, dentro ou fora do ambiente de trabalho, ser atribuída à TPM (Tensão Pré-Menstrual)? Segundo Collini, isso é machista e reduz os sentimentos femininos a hormônios.

É preciso deixar claro que aquela reação teve um motivo. Frases como “você prejudicou meu trabalho e meu desempenho, por isso estou reagindo desta forma” são eficientes em situações assim.

+ sobre o tema

O feminismo chegou ao mundo da moda?

"Todos devíamos ser feministas”. Se há uns dias me...

Dez passos para combater o nosso machismo ridículo.Por Leonardo Sakamoto

Passei tanto tempo tentando explicar a um grupo de...

“Quem é o homem?”: o que a divisão de tarefas domésticas revela sobre questões de gênero

Decidir dentro de um casal homossexual quem é responsável...

para lembrar

Os privilégios de ser uma mulher branca

Nestes dois anos de muita pesquisa, nunca tivemos tanta...

Discurso da Ministra Eleonora Menicucci no plenario da CRPD

Confiram o discurso da Ministra Eleonora Meniccuci da...

A potência de Adelir – Por: ELIANE BRUM

Que dogmas tão profundos a gestante de Torres feriu...

Ator revela homossexualidade e recusa participação em festival de cinema na Rússia

Wentworth Miller, protagonista da série Prison Break, declarou que...
spot_imgspot_img

Sonia Guimarães, a primeira mulher negra doutora em Física no Brasil: ‘é tudo ainda muito branco e masculino’

Sonia Guimarães subverte alguns estereótipos de cientistas que vêm à mente. Perfis sisudos e discretos à la Albert Einstein e Nicola Tesla dão espaço...

A Justiça tem nome de mulher?

Dez anos. Uma década. Esse foi o tempo que Ana Paula Oliveira esperou para testemunhar o julgamento sobre o assassinato de seu filho, o jovem Johnatha...

O atraso do atraso

A semana apenas começava, quando a boa-nova vinda do outro lado do Atlântico se espalhou. A França, em votação maiúscula no Parlamento (780 votos em...
-+=