Por Júlio Ribeiro Xavier
A última fase do processo da cadeia de produção e distribuição dos produtos de jornalismo impresso e editoriais, as bancas de jornais e revistas, apesar das mídias eletrônicas, ainda possuem a importante atribuição de nos informar dos fatos mais importantes do nosso dia-a-dia.
Ainda é através das bancas que a grande mídia difunde as notícias e vários outros assuntos. Nas bancas, você encontra revistas que abordam os mais variados temas, como moda, música, religião, esporte, saúde, profissão, quadrinhos etc. Instaladas em lugares estratégicos, próximas das padarias, das farmácias, dos mercados e nas esquinas, não se consegue passar por uma banca sem que por ela tenha que parar. As previsões apocalípticas não se concretizaram, os jornais e as revistas continuam nas bancas. Não como antes, mas as gráficas não pararam.
Mas é curioso que ao depararmos com a exuberância das cores das revistas e jornais expostos em seu interior e exterior, as bancas não exibam os rostos negros e pardos que habitam essa imensa nação multiétnica. Não é por acaso que grandes emissoras de TV, rádios, revistas de grande circulação e sites de prestígio dão tanto espaço para pretensos acadêmicos condenarem as políticas públicas em favor da população negra deste país, particularmente o sistema de cotas nas universidades públicas. Esses debates, que utilizam como argumento predominante o mérito, na verdade escondem o receio de perder privilégios.
Intenção revelada
Mesmo com a engenhosa sutileza do racismo brasileiro, as bancas de jornais e revistas conseguem “revelar” a face mais perversa do nosso racismo. A invisibilização da população negra. O que o Estado brasileiro tardiamente reconheceu e a grande mídia insiste em ocultar, as bancas de jornais e revistas “revelam” que existe.
Em recente visita ao Brasil, o cineasta americano Spike Lee se disse surpreso com a primeira de suas constatações: a ausência de negros na mídia brasileira. Na primeira vez em que esteve no Brasil, 25 anos atrás, Lee ficou “chocado” ao ver que na TV, em revistas, não havia negros. O cineasta americano afirmou ainda: “Quem nunca veio ao Brasil e vê a TV brasileira via satélite vai pensar que todos os brasileiros são louros de olhos azuis.”
As bancas “revelam” que os negros não se vestem, não compram carros, não escovam os dentes, não praticam esportes, não têm filhos, não comem margarina, não cuidam da saúde e também odeiam participar de campanhas publicitárias. Enfim, as bancas de jornais e revistas “revelam” a verdadeira intenção da classe que detém o controle da mídia no Brasil.
***
[Júlio Ribeiro Xavier é historiador, Pelotas, RS]
Fonte: Observatório da Imprensa