Associação com Kassab mina popularidade de Serra e ameaça tirá-lo do segundo turno

Para especialistas, entrada de Lula em campanha pode aumentar rejeição ao tucano

Por: Wanderley Preite Sobrinho

A pesquisa eleitoral divulgada nesta terça-feira (21) pelo Instituto Datafolha ligou o sinal de alerta na campanha de José Serra, o candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo. Para especialistas ouvidos pelo R7, a ligação do tucano ao prefeito Gilberto Kassab (PSD) é o principal motivo para a rejeição de 38% do ex-presidenciável, que viu Celso Russomanno (PRB) ultrapassá-lo em intenções de voto: 31% a 27%.

Essa rejeição pode até aumentar com a entrada de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff na campanha televisiva do petista Fernando Haddad. Os especialistas avaliam que, se a tendência de queda do tucano nas pesquisas continuar depois do horário eleitoral, os eleitores podem se deparar com o que parecia impossível: um segundo turno sem José Serra em São Paulo.

Segundo pesquisa Ibope divulgada na última sexta-feira (17), a atual gestão é considerada ruim ou péssima por 43% dos entrevistados. A mesma pesquisa diz que os votos para Serra caem de 26% para 15% entre os eleitores que não gostam de Kassab.

Para Roberto Romano, cientista político da Unicamp, a campanha de Serra já esperava que os adversários o associassem à imagem desgastada de Kassab.

— Esse índice de rejeição do Serra tem de ser atribuído em parte ao próprio candidato, mas, sobretudo a Kassab. Uma das piores gestões que tivemos em São Paulo.

Para o professor, essa rejeição pode reduzir com os 7min39seg que Serra tem em seu programa eleitoral.

— O único senão é essa união muito forte entre ele e Kassab.

A cientista política da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) Maria do Socorro diz que o eleitorado não se esquece que “Serra é a continuidade de Kassab”.

— E durante sua campanha ele vem defendendo a atual gestão.

Para diminuir o impacto de Kassab em sua campanha, o programa eleitoral do tucano deve mostrar as realizações que Serra fez tanto na prefeitura quanto no governo do Estado em vez de mostrar o que Kassab concluiu. Outra estratégia será associar Serra à administração do governador Geraldo Alckmin (PSDB), bem avaliado por 42% dos paulistas, segundo o Ibope.

Lula, Dilma e Russomanno

Para os cientistas, a entrada de Lula e Dilma na campanha de Haddad também pode aumentar a rejeição a Serra, já que os dois foram os adversários do tucano na campanha presidencial de 2010. Ontem, o próprio Serra atribuiu sua rejeição à eleição presidencial. Em entrevista ao telejornal SPTV, ele afirmou que agora há “uma manifestação mais imediata” dos eleitores que votaram em Dilma na “eleição presidencial em 2010”.

A entrada de Lula e Dilma nas eleições pode tirar eleitores de Serra, embora nem todos escolham Haddad como alternativa. Para a professora, o candidato petista já deveria “ter pelo menos dois dígitos” nos levantamentos, mas ainda está com 9% das intenções de voto. No mesmo período da campanha em 2008, Kassab – ainda desconhecido – estava com 14%.

— Só poderemos projetar o crescimento de Haddad depois de duas semanas do programa eleitoral. Se Lula e Dilma não despertarem a campanha dele, a tendência é que o PT não ultrapasse a quantidade de votos que consegue normalmente em campanhas estaduais.

Quem pode acabar beneficiado é mais uma vez Russomanno, que herdaria os votos tanto dos descontentes com Serra como de quem é fiel a Lula e Dilma, mas não votaria no ainda desconhecido Fernando Haddad.

— O Celso é conhecido na mídia, e isso ajuda muito porque um dos principais canais para fazer campanha é a TV.

A cientista diz que se a eleição fosse hoje Serra estaria no segundo turno, mas “na projeção a tendência é ele não ir”.

— Pode ser o fim de carreira dele, que não vai concorrer a mais nada. Ele não poderá fazer disputa interna no PSDB para se candidatar à presidência porque não haveria clima no partido. Talvez ele tente ir para o partido do Kassab, onde pode receber apoio para se candidatar em 2014.

Já o professor da Unicamp diz que a ida de Serra ao segundo turno dependerá do marqueteiro de campanha, Luiz González, que, segundo ele, errou na campanha de 2010.

— Na última campanha presidencial, o Serra teve uma equipe de propaganda desastrosa. Ele era candidato a presidente e fazia elogio à política econômica do então presidente Lula. É preciso ver se a campanha aprendeu com o passado ou se vai permanecer com um pé em uma canoa e com o outro pé em outra. Isso leva à derrota.

 

 

Fonte: R7

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