Os lugares mais racistas dos Estados Unidos

Estudo se baseia em buscas no Google que incluíam a palavra niger, considerada o termo mais ofensivo e pejorativo na língua inglesa para se referir à população afrodescendente; notou-se uma relação entre os dados e as regiões do país onde as taxas de mortalidade do povo negro são maiores

Do Notas Periodismo Popular | Tradução por Anna Beatriz Anjos, No Revista Fórum 

Segundo um estudo recente que avaliou as buscas no Google, as partes mais racistas dos Estados Unidos são a noroeste rural e a sul. A metodologia da pesquisa foi elaborada pelo analista de dados Seth Stephens-Davidowitz, que a havia utilizado previamente para apurar o impacto do racismo na votação do atual presidente Barack Obama.

A tese de Stephens-Davidowitz é a de que os dados provenientes do Google são menos vulneráveis à censura do que outras forma de coleta de informação, já que as buscas são, em geral, realizadas na intimidade e, portanto, com maior liberdade e um grau menor de “censura social”. Além disso, estes dados correspondem, em grande parte, com outros obtidos por outras análises, o que garante sua credibilidade.

“As medições habituais podem ser enganosas, já que o racismo opera a níveis subconscientes”, explica a reportagem do jornal The Washington Post que divulgou a investigação. “Se você se pergunta diretamente: ‘sou racista?’, a maioria das pessoas responde que não”, adiciona.

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O estudo consistiu em mapear e analisar o contexto das pesquisas que incluíam a palavra niger, considerada o termo mais ofensivo e pejorativo na língua inglesa para se referir à população afrodescendente. Mas não foi só isso: notou-se uma correlação entre os dados de busca e as regiões do país onde as taxas de mortalidade do povo negro são maiores.

“Os resultados do nosso estudo indicam que viver em um local caracterizado por um desvio padrão de maior proporção em relação às buscas racistas no Google se associa com um aumento de 8,2% na taxa de mortalidade de todas as causas entre os negros”, concluem os autores, que, baseados na metodologia de Stephens-Davidowitz, realizaram a análise a publicaram no jornal acadêmico online PLOS One.

Mapa do racismo nos EUA segundo as buscas do Google. Do azul para o vermelho, as cores determinam o número de pesquisas à palavra niger em relação à média (promedio, em espanhol) (Fonte: Notas)
Mapa do racismo nos EUA segundo as buscas do Google. Do azul para o vermelho, as cores determinam o número de pesquisas à palavra niger em relação à média (promedio, em espanhol) (Fonte: Notas)

“As experiências de discriminação por motivos raciais impactam na saúde, diminuindo o nível socioeconômico, e a aplicação de padrões de segregação residencial racial isolam geograficamente grandes segmentos da população afroamericana e os condiciona a piores condições habitacionais”, escrevem os autores, resumindo investigações já existentes. “A discriminação racial no trabalho também pode levar a menores salários e a uma maior pressão financeira, que, por sua vez, estão vinculadas à degeneração das condições de saúde mental e física”, completam.

O estudo dividiu o país em 210 áreas de mercado, segundo a categorização da Nielsen Media Research, agrupando regiões submetidas ao mesmo conteúdo midiático (canais de TV e rádios). A partir do dado referente à quantidade de menções à palavra niger nas buscas no Google, e somando isso a indicadores populacionais e pesquisas sobre crenças e costumes, construíram um índice capaz de padronizar os resultados.

Os dados sobre as regiões mais racistas dos EUA coincidem, em linhas gerais, com uma análise realizada em 2012 pelo grupo Floating Sheep, que havia se debruçado sobre os tuítes que atacavam a origem étnica do presidente Barack Obama.

As redes sociais e as buscas na internet são uma rica fonte de dados para estudar as sociedades e seus comportamentos. Neste caso, em pleno auge do conflito racial nos Estados Unidos, contam-nos um pouco mais sobre o que pensa a população do norte.

(Foto: Blacklivesmatter.com)

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