Pablo Villaça: falar mal do Brasil é habito de colonizado

Aplaudir a virtude alheia e vaiar os tropeços domésticos é um hábito de colonizado, não de sofisticação

Na Revista Fórum 

Por Pablo Villaça em sua página do Facebook

O brasileiro no exterior é um ser em constante estado de admiração pelo prosaico. Um engarrafamento ganha o charme de ocorrer em pistas de direções opostas às nossas; o frio que enrijece as mãos é europeu, não vindo do vento das montanhas mineiras; a grosseria do atendente é divertida por ser em francês.

Apreciamos a pontualidade dos trens britânicos e invejamos sua organização – e nos esquecemos de que não possuem nosso calor humano ou algo como a Baía de Guanabara, o encontro do Rio Negro e do Solimões ou o pôr-do-sol visto do Mercado Modelo. Babamos diante de seus ídolos pop e esquecemos de nossos Hermetos, de nossas Cássias e de nossos Emicidas. (Mas não nos culpemos: até Seu Jorge se esqueceu de nossos Seus Jorges.)

Não se trata, claro, de ser ufanista ou de fechar os olhos para nossos desalinhos, mas apenas de reconhecer o óbvio: todos os países possuem seus charmes e seus problemas. Aplaudir a virtude alheia e vaiar os tropeços domésticos é um hábito de colonizado, não de sofisticação. O verdadeiro “cidadão do mundo” é aquele que, por muito viajar, percebe que somos todos os mesmos.

Em quinze dias fora do Brasil, por exemplo, fiquei preso no avião em Gotemburgo quando alguém se esqueceu de solicitar os ônibus que deveriam buscar os passageiros na pista; vi metade da frota de ônibus parada em greve em Londres; fui destratado gratuitamente por diversos funcionários de marcos turísticos franceses e vi pedintes mendigando sob o frio nos três países. Li manchetes sobre um escândalo de nove milhões de libras (36 milhões de reais) envolvendo o prefeito londrino, escutei guias turísticos apontando obras que deveriam ter ficado prontas paras as Olimpíadas de 2012 e que permanecem inacabadas e ouvi relatos de corrupção em toda a Europa.

E, a cada experiência destas, podia imaginar inúmeros “só no Brasil” ditos com um tom de autodesprezo por quem mal pisou além de nossas fronteiras.

Pois o fato é que não há um “só no Brasil” – para o bem ou para o mal. Há apenas humanos tentando fazer seu melhor e cometendo atrocidades indizíveis movidas por ganância e fome de poder em todos os cantos do planeta.

Ou melhor: há, sim, um “só no Brasil”. É só aqui que você e eu vivemos e construímos nossas trajetórias.

Então, o mais inteligente a fazer é aprender a perceber que somos lindos e feios como todo o resto. Mas também aprender a amar o fato de sermos brasileiros. Com tudo o que isso significa.

 

O que nos falta é enxergar que nosso prosaico também pode ser belo.

+ sobre o tema

Secretário do Tesouro norte-americano diz que país vai honrar dívida

  Brasília - O secretário de Estado do Tesouro norte-americano...

Por que pobre vota em rico?

Para ela, só existe uma explicação para esse fenômeno...

Conferência pede avanços do Estatuto da Igualdade Racial

Fonte: Terra Notícias - A 2ª Conferência Nacional de...

A intolerância religiosa é um atentado aos direitos humanos

As guerras religiosas expressam como os humanos podem ser...

para lembrar

Escritores de ouvido – Por Fernanda Pompeu

Em maio de 1500 Pero Vaz de Caminha,...

A riqueza da diversidade na experiência do sagrado

Por: FÁTIMA OLIVEIRA Candomblé é religião e um terreiro é...

Emílio Santiago! – Por Cidinha da Silva

Por Cidinha da Silva Todas as vezes em que ouço...

Kassab é alvo de protestos na zona norte

Por: EVANDRO SPINELLI   O prefeito Gilberto Kassab...

8 de março e o Dia Internacional da Mulher

Eva Alterman Blay Professora Emérita FFLCH/USP 04/03/2023 E de repente é 8 de março novamente! O que fizemos nos últimos amargos 4 anos, como o comemoramos¿ Tenho múltiplas...

Política social do governo para mulheres fracassa

Por ignorância, incompetência, má-fé — ou tudo isso junto —, o governo de Jair Bolsonaro tem imensa dificuldade de acertar na política social. Por isso, para...

Movimento negro busca maior representatividade na política

A expansão de movimentos e organizações antirracistas nos últimos anos têm encorajado mulheres e homens negros a se lançarem candidatos na disputa eleitoral deste...
-+=