Pacientes abandonados – por Mônica Francisco

Ouvi uma frase que me chamou a atenção, primeiro por sair dos lábios de uma profissional de saúde, uma médica e, segundo, porque pela primeira vez não ouvi críticas ao paciente e ao sistema cruel de saúde pública. A médica afirmou que em muitos casos onde o paciente é acusado de desinteressar-se ou  abandonar um tratamento, na verdade é o contrário, ele é que é abandonado.

Há alguns meses ouvíamos críticas à “importação” de médicos pelo programa Mais Médicos do governo federal por parte dos próprios  médicos que, com passeatas e com ferozes pareceres em relação ao assunto.

Mas, o que mais me chamou  a atenção de fato neste episódio foi que em nenhum momento se ouvia a defesa dos pacientes, a  vontade de ver as pessoas sendo tratadas com a merecida dignidade por parte do sistema e de seus operadores diretos e indiretos.

De lá pra cá, alguns partos nas calçadas dos hospitais, ou melhor, na porta deles. Dois óbitos escandalosos também na porta de outros dois, e um óbito na porta de uma unidade de saúde. Pacientes que somem, outros que são operados sem nenhum pudor em locais completamente diferentes do local onde de fato seria necessária a intervenção, como no caso da senhora que precisava operar o lado esquerdo do cérebro e teve o direito operado.

Poderíamos listar um sem número de casos, mas a frase com a qual iniciei esta coluna é para mim uma das melhores nos últimos tempos. Ela define o que é o sistema de saúde pública no Brasil. Reflete o abandono, o descaso e o pior, o auge do processo de desumanização das populações mais vulneráveis.

Reflete o racismo institucionalizado e o recorte classista, evidenciado nas taxas de morte e erros médicos cometidos contar uma população em sua maioria não branca, negra, parda e pobre.

A profissional de saúde tem razão e muita, ao afirmar que se abandona um paciente e não o paciente é quem de fato abandona seu tratamento em um hospital ou uma unidade de saúde.

Ele é abandonado pelo preconceito, indiferença, frieza e descaso, por parte daqueles que juraram fazer tudo para salvar´lhe avida e curar-lhe as dores. Mas nem tudo está perdido, aprova é a própria profissional que cunhou a frase e que afirmou a necessidade de humanizar as relações entre médicos, profissionais de saúde em geral e pacientes.

Estes sim, tem o nome mais do que predestinado, pacientes!

“A nossa luta é todo dia. Favela é cidade. Não à GENTRIFICAÇÃO e ao RACISMO, ao RACISMO INSTITUCIONAL, ao VOTO OBRIGATÓRIO e à REMOÇÃO!”

*Membro da Rede de Instituições do Borel, Coordenadora do Grupo Arteiras e Consultora na ONG ASPLANDE.

 

 

Fonte: Jornal do Brasil 

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