Metalúrgico aposentado, Rubens Campolino conta que chegou a estranhar convite para ser o Bom Velhinho, mas hoje comemora sucesso na web e entre visitantes. Ele comemora um ano da estreia no Dia da Consciência Negra.
Por Fábio França Do G1
O metalúrgico aposentado Rubens Campolino, de 70 anos, tem nesta terça-feira (20) uma data para celebrar com mais de um motivo – no Dia da Consciência Negra completa um ano desde que estreou como o primeiro Papai Noel negro de um shopping em São José dos Campos (SP).
Ele está no centro de uma onda de repercussão, na internet e entre os visitantes do local, sobre a importância da representatividade, principalmente por atuar em um mercado onde predominam brancos. “Eu sou feliz demais por poder levar alegria para tanta gente e por fazer um ano aqui”, conta.
Se atualmente ele já encara com naturalidade e bom humor ao ser reconhecido como Papai Noel negro, o convite para ser o Bom Velhinho causou estranheza de início. Rubens foi descoberto para o posto depois de ganhar um concurso como mister terceira idade.
“Me procuraram e fizeram a proposta de eu ser Papai Noel. Aí eu respondi: ‘ tudo bem, mas você viu a foto minha?, viu que eu sou negro?’. Aí responderam que eu ia ser o primeiro Noel negro. Minha esposa apoiou e disse que eu tinha que me preparar para reações positivas, mas também negativas. E hoje estou aqui”, completa, rindo.
Ele conta que a melhor parte é a interação com as crianças e adultos que vão visitar o Bom Velhinho. “Eu sou o Papai Noel para todo mundo. As reações das crianças variam, tem crianças negras que acabam comentando que pareço um parente, o pai, o avô e já se sentem em casa”, disse.
Mãe adotiva de Diego, um garoto negro de seis anos, a pedagoga Adriana Simões conta que a reação do filho ao ver o Papai Noel Rubens foi marcante.
“Ele é especial, tem cromossomopatia e a comunicação dele é toda por meio de gestos. Ele ficou eufórico, apontava para o Papai Noel e apontava para o braço dele, mostrando a cor da pele. Todo mundo diz que a foto dele encarando o Papai Noel dispensa legendas”, conta.
Ela ainda explica que para a filha Ana Caroline – branca, de sete anos e também adotada – ter um Noel negro não altera o significado da figura do Bom Velhinho. “Acho que é muito importante para ele que boas figuras também existam negras pela representatividade. Ela ficou super feliz em saber que existe um Papai Noel da cor do irmão”. Ela e os filhos vão voltar para visitar Rubens este ano.
Sucesso na web
Rubens conta que ‘não é muito de internet’, mas sempre dá uma espiada sobre a repercussão. Mesmo sabendo que algumas pessoas criticam com argumentos racistas, ele prefere focar no carinho que recebe.
“Esses dias vi que uma foto tinha mais de sete mil pessoas compartilhando. É legal demais receber o carinho do pessoal. É bem um reflexo de como eu sou, para cima”, diz.
Apesar de relatar nunca ter sofrido preconceito, Rubens reforça a importância de que exista representatividade e diversidade entre os estilos de Noéis.
“Minhas filhas não viram um Papai Noel negro, mas meus netos já viram. Isso [representatividade] é uma coisa nova que as crianças vão ter. Eu sempre penso na frase do [Martin] Luther King que diz que espera o dia que as pessoas não vão ser julgadas pela cor, vão ser julgadas pelo caráter. Isso é o principal, sempre”.