Para erradicar a fome

Acabar com o problema passa pelo apoio à agricultura familiar e pela garantia de merenda escolar de qualidade

O assunto poderia ter ficado nos anos 1990, mas é pauta em 2024: ainda tem muita gente passando fome no mundo. Segundo relatório divulgado pela FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), 8,4 milhões de pessoas entre 2021 e 2023 passaram fome no Brasil. Isso representa 3,9% da população brasileira em situação de desnutrição crônica por falta das calorias necessárias. Há ainda 18,4% da população em situação de insegurança alimentar, ou seja, quando não há acesso físico e econômico à comida com nutrientes necessários para manter uma vida ativa e saudável.

Em comparação com o mundo, em que mais de 9% da população passou fome no mesmo período, os números do Brasil conseguiram se recuperar melhor dos altos níveis de desnutrição dos anos recentes. Mas ainda estão acima dos valores pré-pandemia e longe de serem considerados aceitáveis.

Paralelamente à divulgação do estudo pelas Nações Unidas, o Brasil lançou a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, como parte das ações para a cúpula do G20 que ocorrerá em novembro no Rio de Janeiro, em que espera ter adesão de outros países membros do grupo.

Dentre os pilares da Aliança, está a criação de um repositório de políticas sociais bem-sucedidas no combate à fome, no qual os países poderão se inspirar para o desenvolvimento de políticas próprias. Além da inspiração no desenho de políticas, os países poderão se conectar com organizações financiadoras para implementação das ações. Dessa forma, busca-se contribuir para o alcance de um dos objetivos da Agenda 2030 de erradicação da fome.

A proposta brasileira tem o objetivo de considerar lições aprendidas ao redor do mundo com políticas efetivas para combater a fome e a pobreza. A Aliança também recebeu a adesão de organismos multilaterais, como o Banco Mundial e o Banco de Desenvolvimento do Caribe e da América Latina, que financiam e têm compromisso com a avaliação e o uso de evidências nas políticas.

Nesse processo de mapear o que funciona para erradicar a pobreza e a fome, é preciso ir além da assistência social. Apesar de políticas de transferência de renda terem sido cruciais para redução da pobreza no Brasil e em outros países, elas não são suficientes. Condições do mercado de trabalho, alta no preço dos alimentos e inconstância de políticas públicas podem afetar o sucesso de políticas sociais isoladas.

Acabar com a fome passa pelo apoio à agricultura familiar e pela garantia de merenda escolar de qualidade, áreas nas quais o Brasil também tem boas experiências para revisitar, ampliar e compartilhar.

Se o compromisso de erradicar a fome for isolado, vamos precisar voltar neste assunto ainda por muitas décadas.

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