Parabéns, querida Simone! Sempre!

Simone de Beauvoir nasceu em Paris, no dia 9 de janeiro de 1908.

“Nasci, às quatro horas da manhã, a 9 de janeiro de 1908, num quarto de móveis laqueados de branco e que dava para o Bulevar Raspail. Nas fotografias de família, tiradas no verão seguinte, vêem-se senhoras de vestidos compridos e chapéus empenados de plumas de avestruz, senhores de palhetas de panamás sorrindo para o bebê: são meus pais, meu avô, meus tios, minhas tias, e sou eu. Meu pai tinha trinta anos, minha mãe vinte e um, e eu era a primeira filha”.

Com esse trecho Simone de Beauvoir começa o livro “Memórias de uma moça bem-comportada (ed. Nova Fronteira, 1983), um auto-retrato denso e realista.

Simone era também uma memorialista contundente, verdadeira, que não poupava nem a si mesma. O livro faz uma crítica aos valores da burguesia e é também um importante registro do movimento existencialista francês.

Simone de Beauvoir foi escritora, filósofa e feminista. Não necessariamente nessa ordem. Ela estudou Letras, Matemática e Filosofia. Queria ser professora, até se tornar escritora. Simone de Beauvoir foi revolucionária em tudo que fez. No rompimento com a família, criticando a aristocracia francesa, os princípios católicos-burgueses. Estabelece com Jean-Paul Sartre um pacto de lealdade – onde a monogamia e a mentira nunca teriam lugar, mesmo que isso provocasse sofrimento. Para Sartre, antes de serem amantes, eles eram escritores e por isso deveriam conhecer profundamente a alma humana, como consta no site Simone de Beauvoir: “multiplicando suas experiências individuais e contando-as, um ao outro, nos mínimos detalhes. Entre Simone e Sartre o amor seria necessário, com as demais pessoas, seria contingente. Beauvoir aceita o pacto, pois ele está de acordo com suas próprias convicções”.

Eu gosto de tudo em Simone. Sua vida. Seu casamento aberto com Sartre. Suas histórias de paixões intensas por mulheres e homens. Seus triângulos amorosos. Viveu um longo caso de amor que se estendeu por quase vinte anos com Nelson Algren. O livro Cartas a Nelson Algren: um amor transatlântico, 1947-1964 (Rio de Janeiro, Nova Fronteira), descreve a intensidade desse romance, um amor que a tocou profundamente.

Escandalizou na Universidade de Sorbonne em que dava aulas porque vivia em concubinato há anos com Sartre, porque dava aulas sobre escritores homossexuais – como Proust e Gide e também por ser bissexual. Tudo isso devia enlouquecer o reitor daquela universidade.

Mas o que eu mais gosto em Simone de Beauvoir é a revolução que ela provocou quando escreveu o livro O Segundo Sexo, em 1949. Publicado em dois volumes, O Segundo Sexo fala sobre a condição feminina, a sexualidade, o corpo da mulher, questiona Freud e é considerado um marco do feminismo.

“… não acredito que existam qualidades, modos de vida especificamente femininos: seria admitir a existência de uma natureza feminina, quer dizer, aderir a um mito inventado pelos homens para prender as mulheres na sua condição de oprimidas. Não se trata para a mulher de se afirmar como mulher, mas de tornarem-se seres humanos na sua integridade”.

Simone de Beauvoir morreu em 1986, mas deixou um legado tão rico, grandioso e importante pro feminismo que é uma pena que nem todas as mulheres saibam que um dia ela existiu.

Parabéns, Simone. Sempre!

Fonte: Matrizes Feministas

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