MARINA NOVAES
Cerca de 150 homossexuais assumidos devem disputar as eleições em 2012, sendo 149 candidatos a vereador e apenas um candidato a prefeito. Considerando o tamanho do Brasil, o número não impressiona tanto, mas segundo a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), se todos os interessados tiverem suas candidaturas aceitas pela Justiça Eleitoral, essa pode ser a disputa mais “colorida” da história, com o maior número de candidatos gays já registrados.
De acordo com dados da associação, caso os números se confirmem, o crescimento em relação à eleição municipal passada será de pelo menos 34% – em 2008, 112 candidatos gays disputaram um cargo público nas urnas. Entretanto, a expectativa é de que o total de candidaturas seja ainda maior, já que muitos dos postulantes podem não ter comunicado a intenção de se candidatar.
“É um sinal de que a sociedade está mudando, está aceitando mais a diversidade. As pessoas estão se assumindo mais, as novelas estão nos retratando mais, temos mais representantes (no Legislativo), então é natural que haja esse crescimento, que vemos com bons olhos”, avalia Toni Reis, presidente da ABGLT. De acordo com Toni, na eleição de 2008, foram eleitos oito vereadores homossexuais, mas o Brasil ainda não elegeu seu primeiro prefeito gay.
Oficialmente, é difícil mensurar o tamanho dessa representação, já que a Justiça Eleitoral não questiona, ao registrar uma candidatura, qual a orientação sexual da pessoa – nem há previsão para que isso seja feito. Porém, além do “boom” de candidaturas “saídas do armário”, militantes apontam um outro motivo para também atrair esse crescimento: o poder de puxar votos entre eleitores da comunidade LGBT.
Foi o que aconteceu com a dançarina Léo Kret do Brasil (PR), 28 anos, a primeira transexual a ser eleita para a Câmara de Vereadores de Salvador (BA). Ela ganhou fama ao finalizar sua inserção no horário eleitoral na TV com um sonoro gritinho “aaai!”. Embora admita ter sido convidada pelo partido a se candidatar por ser “puxadora de votos”, ela afirma ter conseguido mudar a opinião daqueles que a escolheram como forma de “protesto”.
“Eu não sabia que o PR era um partido conservador quando me candidatei, até porque eles sempre foram muito abertos. (…) Os partidos conservadores querem mesmo os campões de votos, eles querem candidatos polêmicos, porque isso atrai os eleitores. Mas quando fui eleita, vi o desafio que tinha e fui estudar, mostrei que não estava de brincadeira, e nunca interferiram no meu trabalho”, disse. “Hoje tenho orgulho de dizer que muita gente que dizia ter votado em mim por protesto (em 2008), hoje fala que vai votar de novo porque viu que eu trabalho”, completou a vereadora, cuja principal bandeira política é a luta contra a homofobia, apesar de o seu partido ser contra a aprovação, no Congresso Federal, de uma lei nacional que criminaliza o preconceito e a violência contra homossexuais.
Conservadores X Liberais
Aos 26 anos, o professor de história Renan Palmeira (PSOL) é, até agora, o único homossexual assumido no Brasil a se candidatar a prefeito, em João Pessoa, capital da Paraíba. Militante político desde os 15 anos, essa será sua primeira disputa eleitoral que, segundo ele, tem um propósito principal: esquentar o debate sobre a igualdade de direitos em uma das cidades mais homofóbicas do país, na avaliação de militantes.
“Tenho clareza de que é uma candidatura para demarcar espaço, para fazer um debate na sociedade. Mas nós sabemos que, por mais simpatia que a nossa candidatura pode vir a ter, nosso Estado é dominado por oligarquias na política e essa será uma disputa muito desleal”, avalia o socialista, que diz já ter sido alvo de piada inclusive entre veículos de comunicação regionais.
Segundo o levantamento da ABGLT, para o Legislativo, há candidatos homossexuais assumidos filiados a pelo menos 20 partidos, entre conservadores e liberais (que ainda atraem mais interessados). Para o deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), porém, os candidatos que carregam a bandeira LGBT devem verificar se as legendas escolhidas por eles estão de acordo com aquilo que defendem, e chama de “oportunismo” o convite feito por partidos conservadores aos gays.
“Oportunismo, pura e simplesmente. (Os partidos conservadores) tentam aumentar seus quocientes à custa de candidatos que, por inocência, não perceberam que seus pleitos não são acolhidos por seus partidos. Não haverá espaço para eles”, disse o deputado, categórico.
Apesar da polêmica, o presidente da ABGLT é contra a partidarização da discussão e vê com bons olhos a filiação de candidatos gays em partidos conservadores.
“Não podemos partidarizar a discussão, porque nossa comunidade é muito plural. Acho positivo que hajam candidatos LGBT em todos os partidos. Onde houver espaço para ser ocupado, esperamos que a pessoa vá lá e use isso para transformar o partido”, opina Toni.
De olho nas eleições, a associação lançou uma cartilha com algumas das reivindicações que espera ver nos discursos e propostas dos candidatos LGBT, e a campanha “Voto contra a Homofobia, Defendo a Cidadania”. As informações para os candidatos – gays e aliados – estarão disponíveis ao longo do período eleitoral na página da associação.
Fonte: Terras