A cantora Paula Lima, paulistana de 40 anos, parece viver um dos melhores momentos da carreira. Jurada do programa “Ídolos”, da “Rede Record”; protagonista do musical “Cats” e prestes a lançar o quinto CD solo, que contará com a música “Ela é a Tal”, da trilha da novela “Ribeirão do Tempo”, da “Record”, ela garante: “Estou amando conciliar tantas atividades e descobri que sou workaholic.” Com 18 anos de carreira e passagem por bandas como Funk Como Le Gusta, ela conta como é ser mulher, negra e cantora bem-sucedida.
1 – O que você acha da fama de ser a jurada mais boazinha de “Ídolos”?
Já pensou que horror seria se dissessem que sou a mais carrasca? Tenho visão muito diferente da que tem Marco Camargo e Luiz Calainho (outros jurados), pois já estive no lugar dos candidatos e sei do nervosismo, da certa timidez e dos trêmulos na voz que podem atrapalhar a performance. Então vou tratá-los com mais paciência e carinho. Mas o cara tem que me emocionar e, se não tiver personalidade, serei a primeira a dizer não.
2 – Quais são as lições de ser jurada de “Ídolos”?
Na primeira temporada sofri muito para falar não às pessoas. Hoje não sofro mais e estou ali para somar à música brasileira em um programa de credibilidade mundial. Outra dificuldade é quando chegam dez candidatos que não têm o nível que queremos. É muito triste e cansativo, pois parece que estamos diante da porta da esperança, que abrirá para surgir o novo ídolo.
3 – “Ídolos” cumpre papel semelhante aos dos festivais da “Record”?
Não é justo dizer que cumpre o papel dos festivais, que eram mágicos nas décadas de 60 e 70. Ali surgiram os grandes artistas do Brasil, de Gilberto Gil, Elis Regina e Caetano Veloso a Rita Lee, Toni Tornado e Elza Soares. Na verdade, “Ídolos”, é o espaço para que pessoas novas possam mostrar o talento para o Brasil e que talvez acrescentem algo para a música popular brasileira.
4 – Quando você descobriu que gostaria de ser cantora?
Minha mãe diz que, quando eu tinha 3 anos, ia ver se eu estava acordada e me encontrava cantando. Dos 7 aos 17 estudei piano, o que me fez ter mais certeza do meu amor pela música. Porém, quando estava com o Funk Como Le Gusta e já tínhamos público muito grande, senti que, a partir dali, só poderia melhorar e disse: “Agora posso ser cantora.” Trabalhava no Tribunal de Justiça de São Paulo e pedi exoneração. Isso aconteceu também quando passei a pagar as contas cantando.
5 – O que a formação em Direito ajuda na carreira?
Eu sei ler um contrato de maneira diferente e, principalmente, tenho a segurança de ser formada, porque a mulher já é vista de maneira às vezes preconceituosa na sociedade, a cantora é sempre associada à loucura, e, com relação a ser negra, infelizmente às vezes ouço absurdos. Sou de família de classe média, com pai metalúrgico e mãe professora primária, ambos aposentados, e fomos criados pelo meu avô dizendo que sem estudo não conseguiríamos nada.
6 – Qual é a diferença de fazer parte de bandas e ser cantora solo?
Ter feito parte de várias bandas me deu base e segurança. Cresci com elas, tanto que, quando ataquei em carreira solo, estava muito preparada. É muito gostoso fazer só o que você curte 100%. Mesmo assim, um dos momentos mais complicados foi quando saí do Funk Como Le Gusta. Quando gravei meu primeiro disco solo não pensava em sair, mas o trabalho tomou proporção tão grande que percebi não haver outra alternativa.
7 – Você já se sentiu discriminada por ser negra?
Dificilmente algum negro dirá que nunca sofreu discriminação. Eu já entrei em lojas em que as pessoas olhavam como quem diz: “O que você está fazendo aqui?” Quando quis gravar meu primeiro disco em 1994 soube que um produtor renomado disse: “Não vou gravar um CD com a Paula Lima porque não sei como o mercado aceitará uma cantora negra.” A ralação e dificuldade do negro ainda são maiores. Porém, com mais educação e pessoas atuando em muitas áreas, isso mudará.
8 – Como você avalia a situação da mulher brasileira?
Hoje as mulheres são independentes e seguras e não dependem de marido. As pessoas também já aceitam mulheres em cargos de chefia. É muito bacana termos duas mulheres candidatas à presidência do Brasil. E termos Beyoncé, Lady Gaga e Madonna, mulheres tão poderosas. Nós estamos muito bem na foto, sabemos o que queremos e temos o que dizer.
9 – Que cuidados você tem para ser sinônimo de beleza da mulher negra?
Não tenho neuras. Quando trabalho quero estar com pele boa, roupa bacana e maquiada adequadamente. Em casa uso calça listrada, malhinha de lã quente, cabelo amarrado e óculos, feliz da vida. Também sou um pouco preguiçosa para ginástica, mas levo a sério quando faço os exercícios. Já com relação ao cabelo, tinha muito mais trabalho quando alisava. Todo dia era uma hora em frente ao espelho para tentar deixá-lo perfeito. Hoje só uso alguns cremes que realmente fazem a diferença.
10 – Como está sendo a experiência de protagonizar o musical “Cats”?
Está sendo maravilhoso. Não imaginava que fosse gostar tanto de ser atriz-cantora. Antes não era muito fã de musicais teatrais e não tinha o hábito de vê-los. Agora sou fã ardorosa e não vou perder mais nenhum. É um trabalho árduo, pesado e duro, mas transformo-me com o maior prazer na gata Grizabella, que é rejeitada pela tribo e muito triste. Externar esse tipo de sentimento talvez tenha sido muito difícil pois meu show e minha música são para cima.
Fonte: Universidade Livre Feminista