Por:
ANDREA MURTA
MARCELO NINIO
Apesar de entraves e violência dos últimos dias, Obama diz, ao iniciar cúpula, que acordo pode sair em um ano
Morte de 4 colonos na Cisjordânia embaça 1ª conversa direta entre israelenses e palestinos em 20 meses
Barack Obama tornou-se ontem o mais novo líder norte-americano a expressar otimismo na paz entre israelenses e palestinos.
Apesar de todos os obstáculos -como a construção de colônias israelenses na Cisjordânia e o status de Jerusalém-, ele afirmou que existem condições de atingir um acordo em um ano.
Obama abriu, na Casa Branca, uma cúpula sob a sombra do ataque que matou quatro colonos judeus na Cisjordânia anteontem.
Em suas primeiras declarações, logo após se reunir com o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, Obama condenou a “matança sem sentido” e afirmou que ambos os lados “indicaram que essas negociações podem ser finalizadas em um ano”.
“Os EUA vão se manter firmes em seu apoio à segurança de Israel. Vamos reagir contra esse tipo de atividade terrorista”, disse Obama.
O grupo radical palestino Hamas assumiu a responsabilidade pelo atentado.
Obama caminhava em uma linha tênue nos esforços para trazer os dois lados à mesa. A cúpula está sendo vista como sua maior e mais arriscada aposta até agora para um acordo que leve à criação de um Estado palestino ao lado de Israel.
Há dúvidas sobre o quanto se pode avançar em direção a um acordo final só com o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, que lidera os palestinos na Cisjordânia.
O Hamas, considerado terrorista pelos EUA, não participa da cúpula, apesar de controlar a faixa de Gaza.
Obama ainda se reuniria ontem com o rei Abdullah, da Jordânia, e o ditador egípcio, Hosni Mubarak.
Os líderes ainda teriam um jantar à noite com a presença de Tony Blair, ex-primeiro-ministro britânico e representante do Quarteto (EUA, União Europeia, ONU e Rússia) para o Oriente Médio.
CONCESSÕES
Único representante da enfraquecida esquerda israelense num gabinete dominado por conservadores, o ministro da Defesa Ehud Barak admitiu concessões num dos pontos mais sensíveis das negociações com os palestinos, o controle de Jerusalém.
Em entrevista ao “Haaretz”, Barak disse que partes da cidade podem ser cedidas.
“Jerusalém Ocidental e 12 bairros judeus que abrigam 200 mil residentes serão nossos. Os bairros árabes, onde perto de um quarto de milhão de palestinos vivem, serão deles”, disse Barak.
“Haverá um regime especial para a cidade velha, o monte das Oliveiras e a cidade de David”.
A declaração surpreende por contrastar com a defendida por Netanyahu e grande parte do gabinete, de que Jerusalém jamais será dividida.
Um assessor do governo reagiu rapidamente às declarações, mantendo a atitude de que a cidade “seguirá a capital indivisível de Israel”.
Em Washington, Netanyahu também endureceu sua oferta inicial sobre a questão considerada central pelos palestinos, o congelamento dos assentamentos nos territórios ocupados.
O premiê indicou que não ampliará a moratória sobre a construção na Cisjordânia, que acaba no fim do mês.
Fonte: Folha de S.Paulo