PCC volta às manchetes

Por Luciano Martins Costa

 

Os jornais de segunda-feira (2/8) destacam os ataques atribuídos ao grupo criminoso Primeiro Comando da Capital, o PCC, nos últimos dias em São Paulo. Entre a manhã de sábado e a madrugada de domingo, grupos de delinqüentes tentaram matar o comandante da Rota, uma espécie de grupamento de elite da Polícia Militar paulista, atacaram o quartel da tropa e supostamente incendiaram pelo menos dez veículos na Zona Leste de São Paulo.

Os atentados aconteceram num prazo de menos de 17 horas, conforme especifica a Folha de S.Paulo, o que, para alguns policiais entrevistados, revela a ocorrência de ações coordenadas.

No atentado contra o comandante da Rota, o tenente-coronel Paulo Adriano Lopes Telhada, a ação foi rápida: um carro se aproximou da casa do militar quando ele saia para uma caminhada e o passageiro disparou onze tiros em sua direção. No ataque ao quartel, dois homens passaram disparando e um deles tentou atirar um coquetel motolov, mas foi baleado e morreu antes de ser socorrido.

Círculo vicioso

Oficialmente, o secretário da Segurança declara que as ações foram praticadas por criminosos que estão “descontentes” com o trabalho da PM. Nenhum repórter lhe perguntou se é esperado que algum criminoso fique “contente” com a ação da polícia.

Mais esclarecedora foi a entrevista do comandante da Rota. Ao observar que o delinquente morto durante o ataque ao quartel havia saído da cadeia em fevereiro, após uma sentença de 11 anos de prisão, o tenente-coronel Telhada afirmou ao Estadão que o ex-detento “devia estar devendo para todo mundo. Aí, mandaram ele fazer tal coisa. Se não fizesse, iam quebrar ele” (sic), comentou o oficial.

Esse é, certamente, o filão da história que a imprensa paulista insiste em ignorar. Nas palavras do comandante da Rota, o sistema prisional transforma os condenados em reféns dos grupos organizados, que cobram pela segurança, por cigarros, por visitas íntimas e até pela própria vida dos detentos. Quando os endividados ganham liberdade condicional ou cumprem a pena, são obrigados a trabalhar para as quadrilhas. Este é o círculo vicioso que a imprensa não vê.

Dívidas cobradas

Os jornais saíram atrás da possibilidade mais óbvia, ou seja, da hipótese de se repetirem em São Paulo as cenas de 2006, quando o PCC organizou uma sucessão de atentados contra policiais militares, incendiando ônibus e aterrorizando a capital paulista. Mas os episódios do fim de semana não têm a mesma dimensão.

O principal grupo organizado de criminosos que atua no estado não tem motivos para promover uma nova onda de atentados. Eles têm o poder nas penitenciárias, dominam muitos bairros de São Paulo, Santos, Vicente de Carvalho e outras cidades, e contam com a omissão ou a conivência de policiais corruptos, conforme se pode ler regularmente em notas dos jornais.

Certamente algumas ações da Polícia Militar, que tem infiltrado agentes em quadrilhas e produzido operações que dão grandes prejuízos aos criminosos, podem ter motivado os episódios do fim de semana, como explica o secretário da Segurança Pública. Mas o ponto principal da história é a pista dada pelo comandante da Rota, ao chamar atenção para o fato de que um ex-detento tenha participado do atentado apenas alguns meses depois de ter deixado a cadeia, provavelmente porque estava sendo obrigado pelo crime organizado, para pagar dívidas.

História a ser contada

A história que a imprensa está “frangando” é o grande número de reincidências entre egressos do sistema penitenciário. Sabe-se, até mesmo por notícias de jornais populares, que o Estado não oferece auxílio para familiares que se deslocam de suas cidades para visitar parentes presos. Muito desses condenados cumprem pena em localidades distantes de seus domicílios.

Em muitos casos, as despesas dessas visitas são financiadas pelo PCC. Além disso, o grupo cobra por “segurança” dentro e fora da cadeia. Quando o preso ganha o benefício da liberdade condicional, recebe a conta: tem que participar de um assalto ou de outra ação de interesse do crime organizado.

O sistema penitenciário, em última instância, estimula a reincidência em vez de reeducar o preso. Essa é a história à espera de um repórter investigativo.

 

 

Fonte: Envolverde

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