Por PATRICK HEALY
Com o público geral da Broadway em declínio, os produtores estão apostando especialmente em frequentadores afro-americanos para aumentar suas receitas.
O uso de grupos de opinião é uma das estratégias usadas pelo musical “Memphis”, um romance turbulento entre uma cantora negra de R&B e um DJ branco, e pela nova peça “Race”, outro espetáculo concentrado em personagens negros, que raramente ocupam o primeiro plano nas principais peças e musicais.
Enquanto os produtores de “Memphis” estimam que 25% a 30% de seu público seja formado por negros, a produção de uma remontagem de “Fences” e de “Race” diz que sua iniciativa resultou em uma plateia composta por 40% de negros. “Fences”, estrelada por Denzel Washington, também atraiu um grande número de afro-americanos (a temporada terminou em 11 de julho).
A programação da Broadway para esta temporada inclui dois novos musicais sobre homens negros, “Unchain My Heart: The Ray Charles Musical” e “The Scottsboro Boys”, e possivelmente a nova peça “The Mountaintop”, sobre o reverendo Martin Luther King Jr., dependendo de se a produção conseguir astros como Samuel L. Jackson e Halle Berry.
Na verdade, os produtores de “Memphis” dão crédito à publicidade boca a boca entre a população negra por manter o show em cartaz por tempo suficiente para ganhar o Prêmio Tony de melhor novo musical, em junho. Com uma partitura e história desconhecidas, “Memphis” não tem astros. Mas seus produtores acreditavam que o show ficaria conhecido como um entretenimento memorável se fosse divulgado entre religiosos, diretores de coro e mulheres da comunidade afro-americana.
“Qualquer um que disser que ‘Memphis’ não é original como peça de teatro musical não está percebendo o impacto que o show tem sobre um amplo leque de pessoas que sentem que a Broadway de modo geral não é para elas”, disse Sue Frost, uma das principais produtoras do espetáculo, comentando com orgulho que Michelle Obama levou suas filhas a uma apresentação.
Uma empresa de venda de ingressos para grupos que se dedica às minorias, a Full House Theater Tickets Inc., relatou que “Memphis”, “Race” e “Fela!” (sobre o músico afrobeat Fela Kuti) atraíram um número extremamente grande de afro-americanos. “Parte do interesse desses shows é que eles dão às plateias negras algo de que falar”, disse Sandie M. Smith, presidente da Full House.
O sabor R&B de “Memphis” e o tratamento sério da vida afro-americana segregada na década de 1950 foram pontos que atraíram Willie Anderson, turista de Atlanta, o qual levou um grupo de 11 parentes e amigos para uma apresentação. Cada um pagou US$ 94 por ingresso.
“Queríamos ver algo com sabor africano e ouvimos falar que ‘Memphis’ era um show que valia a pena assistir”, disse Anderson. “Não tenho nada contra ‘Mary Poppins’, mas não o considero um espetáculo para nós, como ‘Memphis’.”
Fonte: Folha