Diretora de colégio estadual teria ofendido uma vendedora. Denúncias foram feitas na última segunda DIÁRIO DE S.PAULO
POR: Ivan Ventura
O pior colégio da capital paulista, segundo a mais recente nota do Ideb (Instituto de Desenvolvimento da Escola Base), enfrenta uma crise que vai além da esfera educacional. A diretora da Escola Estadual Jardim Esperança, localizada na região do Jardim Ângela, na Zona Sul de São Paulo, é acusada por alunos, professores e até moradores de assédio moral. Ela também teria atacado com palavras racistas uma vendedora de sorvete que trabalha na frente da instituição de ensino.
O caso ocorreu no fim de 2012, mas só veio à tona agora. As denúncias foram feitas na última segunda-feira na Diretoria Regional de Ensino 2, que começou a investigar o caso. A diretora, que não teve o nome divulgado, mas foi identificada por alunos e professores como Heloísa, pediu o afastamento da função na última segunda-feira.
Segundo a Secretaria Estadual da Educação, o afastamento não tem relação com a denúncia e seria uma licença-prêmio a que ela teria direito.
A investigação de racismo terá como ponto de partida um vídeo com um emocionado depoimento de uma vendedora chamada Odete sobre o caso ocorrido em 2012. Na versão da vendedora, ela foi impedida de vender a sua mercadoria em frente à escola, o que gerou uma discussão entre a diretora e a vendedora. Nesse momento, ela teria sido insultada com palavras como “macaca” e “urubu”. Odete afirma que não comunicou o caso à polícia por ser analfabeta.
A diretora e uma vice-diretora, identificada como Andria, são acusadas de assédio moral. Questionada ontem pelo DIÁRIO sobre as acusações, Andria não quis comentar o caso.
Segundo o professor de educação física da escola, Júlio Sérgio Siqueira Ghiotto, a vice-diretora chamava professores de burros. “Ou ‘bb’. Em vez de chamar de burro, ela chamava de ‘bb’ alguns dos professores. Ela chegou a dizer que uma professora deveria vender cachorro-quente em vez de dar aula”, disse Ghiotto. O grupo ainda fala em registrar um boletim de ocorrência por cárcere privado.
“Na sexta-feira, dia 11, ela (a diretora) trancou todo mundo na escola e impediu a nossa participação na manifestação (ocorrido na quinta-feira da semana passada)”, afirma o professor.
Secretaria da Educação promete investigar o caso
Após ser informada sobre os problemas entre a direção e alunos da Escola Estadual Jardim Esperança, a Secretaria Estadual da Educação afirmou ter aberto uma investigação para apurar as denúncias feitas por alunos contra a diretora e a vice-diretora do colégio. Em nota, a pasta promete ouvir todos os envolvidos no caso.
“A apuração está em curso e caso seja constatada alguma falha na conduta dos profissionais, todas as providências, inclusive administrativas, serão tomadas. A diretora pediu licença e será ouvida mesmo afastada. É importante ressaltar que as reuniões com a comunidade escolar são permanentes e a administração regional permanece à disposição dos pais e dos alunos para eventuais esclarecimentos”, informou a secretaria no comunicado. Essa é a segunda investigação contra a direção da Escola Jardim Esperança. A primeira ocorreu em junho.
Opinião
Wilson Honório da Silva, professor universitário e dirigente do movimento Quilombo Raça e Classe
O Estado precisa agir e punir
Para nós do Quilombo Raça e Classe, o que aconteceu na escola do Jardim Esperança acontece em outras escolas e revela a falência do Estado na educação pública. Nós, negros, sofremos preconceito e isso dificulta o acesso à educação. Casos como esse podem acontecer de novo, claro. O Estado tem de agir contra essa conduta reprovável.
Fonte: Diário de S.Paulo