por Arísia Barros
União,a terra de Zumbi, faz parcas e esporádicas visitas a Serra da Barriga, ou ao Parque Memorial Quilombo dos Palmares, segundo o site da Palmares: “Primeiro equipamento do gênero no País, o Parque Memorial Quilombo dos Palmares reconstitui o cenário de uma das mais importantes histórias de resistência à escravidão do mundo: a história do Quilombo dos Palmares – o maior, mais duradouro e mais organizado refúgio de escravos das Américas. Nele, reinou Zumbi dos Palmares, o heroi negro assassinado em 20 de novembro de 1695, data em que se comemora o Dia Nacional da Consciência Negra”.
A descendência negra em União não conhece o Parque, mesmo diante do ineditismo do projeto.
Apesar da importância política e humana da República dos Palmares, o fosso da desigualdade de valores, entre a história padrão e interlocução social com a historicidade negra aumenta, significamente, geração após geração.
É de vital importância a conjugação de esforços entre os governos nacional,estadual e municipal e sociedade civil que extrapolem a burocracia tradicional e incorporem à história nacional o protagonismo do povo negro, fator decisivo para o desenvolvimento de ações programadas, visando o fortalecimento existencial do Parque Memorial.
Publicizar o Parque Memorial Quilombo dos Palmares,como constituição do ativismo de sujeitos históricos e políticos nas mídias nacionais já seria uma decisão política de bom tamanho.
Como diria o velho Charinha: “Quem não se comunica se trumbica”
Em União muitos moradores não sabem dizer de sua localização. Outros negam Zumbi.
Conversando com uma “descendente” palamarina ela lança seu olhar dotado de uma sabedoria ancestral: “Sabe o que é moça. Essa festa é feita por gente de fora. Aqui a gente só vai assistir. É só espectador.!”
Até em Palmares Zumbi é estrangeiro!
Pobre Palmares!
A militância negra não mais rompe os descampados entre a violência que forja uma plástica comemoração e as possibilidades de interpretar e refletir sobre outros ritos de passagem.
O Dia Nacional da Consciência Negra ou ,o 20 de novembro É a personificação de uma luta pluriétnica, simbolizada na pessoa de um guerreiro negro, Zumbi dos Palmares contra a escravização dos valores humanos.
O 20 de novembro deve ser revestido com a compreensão de que as cercas construídas por grupos instituídos aumentam a segregação étnica.
O poder não admite negr@s protagonistas!
No 15 de novembro de 2010, 121 anos depois da Proclamação da República, a cidade de Marechal Deodoro, em Alagoas, mais uma vez, mereceu honras do estado político com a transferência da sede do poder para a terra do proclamador.
Já existe até um projeto que será encaminhado ao parlamento estadual para que isso se torne permanente.
Dia 20 de novembro, 122 anos após a abolição inconclusa, a cidade de União , território da República de Palmares, foi contemplada com a presença de um secretário de estado e um gerente da Fundação Palmares.
O poder político não esteve em Palmares!
Palmares não existe para Alagoas!
A construção da comemoração da consciência negra em Alagoas foi silenciosamente arquitetada, nas vésperas da “festa”, nos gabinetes revestidos da burocracia e concepções estatais.
Construída com visão imperialista e universalizante do estado em uma gestão “harmoniosamente” compartilhada com grupos hegemônicos ao poder.
O poder escolhe grupos e os adota e os grupos ‘contemplados “por sua vez personalizam os ditames estatais, legitimando as concepções limitantes de que as evidências históricas do protagonismo negro estão alicerçadas SÓ nas performances da dança atrelada a culinária afro-brasileira.
Palmares deveria representar na historicidade contemporânea uma segunda revolução dos valores escravizantes!
O 20 de novembro de 2010 encantou,sobremaneira, o comércio de Maceió e União que abriu suas portas para valorizar o mercado, apesar do feriado histórico.
A tal comemoração do 20 de novembro anda tão igual ,nas terras de Zumbi, que uma emissora local resolveu inovar e elencou o protagonismo de Calabar.
Começo a acreditar que Zumbi é carioca.
Foi no Rio de Janeiro que o poder nacional gritou outros gritos: Ancestralidade. Historicidade. Territorialidade política.
E pensar que tudo começou em Alagoas…
Pobre Palmares!