Polícia vai indiciar funcionário de drogaria acusado de racismo no Rio

A Polícia Civil do Rio decidiu indiciar o funcionário da drograria Pacheco – acusado por uma cliente de preconceito racial contra seu neto – por injúria qualificada, artigo do crime de racismo, cuja pena varia de um a três anos de reclusão. O crime é inafiançável.

Segundo a aposentada Carmem Maria dos Santos, um funcionário da farmácia localizada na Avenida das Américas, no Recreio, Zona Oeste da cidade, teria abordado o neto dela de 11 anos, que é negro, e perguntado se ele estaria “incomodando os clientes”.O fato ocorreu menos de um mês após caso semelhante de racismo em uma concessionária da BMW na Barra da Tijuca, também na Zona Oeste.

Nesta terça-feira (5), após registrar a ocorrência na 42ª DP (Recreio dos Bandeirantes), Carmem disse que vai lutar por justiça.
“Eu nunca pensei que fosse passar por isso. Ele [funcionário] só viu a cor do meu neto. Agora, eu espero que seja feita justiça para que ele nunca mais faça isso com ninguém. Vai pensar duas vezes”, afirmou Carmem.

Câmeras de segurança

A delegada titular da 42ª DP (Recreio), Adriana Belém, disse ter ficado chocada com a atitude dos funcionários da farmácia.
“O que mais me comoveu é saber que o garoto chorou e disse para a avó que não gostava de ser preto e, mesmo assim, eles [funcionários] não tiveram a honra de pedir desculpas ou tomar qualquer atitude para acalmar a criança e a avó”, afirmou a delegada, acrescentando que esse tipo de crime é comum, mas poucas pessoas procuram a polícia.

O gerente da drogaria Pacheco foi intimado a prestar depoimento nesta quarta-feira (6), apresentando as imagens das câmeras de segurança do estabelecimento para auxiliar nas investigações. Como representante legal, ele também deverá apontar quem é o funcionário para que ele seja chamado a depor.

O menino de 11 anos também será ouvido na delegacia, acompanhado pelos responsáveis e deve ser encaminhado para atendimento psicológico.

Suspeita de racismo

De acordo com a aposentada, enquanto ela pagava as compras, um funcionário do estabelecimento se aproximou, colocou as mãos sobre os ombros do menino e perguntou à operadora de caixa, por três vezes, se o garoto “estava incomodando”, sem saber que ele estava acompanhando a avó.

Carmem Maria dos Santos acusou o funcionário de racismo e recebeu o apoio de outros clientes que estavam no local. Segundo ela, a criança ficou abalada e chorou muito. “Meu neto virou para mim disse: vovó, fica quieta (sic), deixa para lá, é por isso que eu não gosto de ser preto”, disse Carmem, chorando.

A aposentada contou que cria o menino – filho de uma ex-empregada dela – desde que nasceu sem qualquer diferença de tratamento em relação aos outros dois netos.

Resposta da drogaria

Em nota, a drogaria disse que está em processo de apuração do fato e tomará as medidas necessárias.

Veja abaixo a nota na íntegra:

“Com relação ao suposto caso de racismo ocorrido em uma de suas unidades a empresa esclarece que já está em processo de apuração do fato e tomará as medidas necessárias. A companhia reforça que tem como um de seus valores a ética em seus relacionamentos, com responsabilidade comercial e de gestão. O compromisso em atender bem aos seus clientes é validado com o treinamento e monitoramento constantemente de todas as equipes de atendimento na rede para a prestação do melhor serviço.”

Também em nota, a Secretaria de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos e a Superintendência de Igualdade Racial ressaltou que repudia qualquer tipo de discriminação e informou que negros e pardos são especiais vítimas deste tipo de crime, conforme mostra o Relatório de Desigualdades Raciais no Brasil 2009-2010 do Laboratório de Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais – LAESER.

Racismo em concessionária

Uma ida à concessionária da BMW Autokraft, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, na tarde do dia 12 janeiro, também deixou o casal Ronald Munk e Priscilla Celeste indignado. Pais de cinco filhos, foram à loja acompanhados do caçula, de 7 anos, que é negro e adotado, em busca de um automóvel novo para família. Enquanto conversavam com o gerente de vendas sobre os carros, dizem ter sido surpreendidos com uma atitude preconceituosa do funcionário quando a criança se aproximou dos três. O BMW Group enviou uma nota ao G1 em que pede desculpas ao casal.

 

“Vovó, fica quieta deixa para lá, é por isso que eu não gosto de ser preto” – Menino de 11 sofre racismo no Recreio dos Bandeirantes

Fonte: G1

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