A Ponte: Jornalistas lançam canal online sobre Segurança Pública, Justiça e Direitos Humanos

Na próxima semana entra no ar o site Ponte (www.ponte.org), uma iniciativa de jornalismo independente com foco em Segurança Pública, Justiça e Direitos Humanos.

O novo site é produzido por 20 jornalistas, entre eles Andre Caramante e Laura Capriglione, ex-repórteres da Folha de S Paulo, e Bruno Paes Manso, que mantém um blog sobre o tema no Estadão. O projeto tem apoio institucional da Agência Pública de Jornalismo Investigativo.

“A questão da segurança pública é o passaporte do futuro do Brasil”, explica Laura Capriglione. “É ela quem definirá, conforme sua resolução, se evoluiremos para uma sociedade de vingadores e linchadores, ou de garantia dos direitos essenciais para todos. Com a Ponte nós reafirmamos nossa aposta na democracia e no Estado Democrático de Direito”.

André Caramante explica o diferencial do jornalismo feito pelo site: “Partimos do princípio de que a voz de um cidadão comum deve ter a mesma importância do que a de um governo, qualquer governo”.

“O jornalismo precisa cobrar a atenção e a correção permanente dos desvios cotidianos das nossas instituições, o que acaba inevitavelmente contrariando interesses. A rede de mais de 60 apoiadores será fundamental para dar respaldo social e político à Ponte”, diz Bruno Paes Manso.

A iniciativa segue um modelo de produção jornalística baseado na formação de um coletivo de profissionais, unidos em torno de um projeto sem fins lucrativos e independente, sem nenhum tipo de filiação partidária. “A proposta de um coletivo está essencialmente ligada às novas tecnologias, é um modelo filho do ‘agregar e compartilhar’”. diz Claudia Belfort, ex-editora-chefe de digitais do Estadão.

O site, com atualização diária, trará reportagens, vídeos e denúncias sobre o tema, que norteia as carreiras de todos os jornalistas envolvidos. Também fazem parte da Ponte: Caio Palazzo, Fausto Salvadori Filho, Gabriel Uchida, Joana Brasileiro, Maria Carolina Trevisan, Marina Amaral, Milton Bellintani, Natalia Viana, Paulo Eduardo Dias, Rafael Bonifácio, Tatiana Merlino e William Cardoso.

(leia a biografia de todos os integrantes abaixo)

Institucionalmente, a Ponte nasce aliada à Agência Pública de Jornalismo Investigativo (www.apublica.org), uma organização sem fins lucrativos pioneira no Brasil cuja missão é produzir e promover o jornalismo investigativo. A Pública oferece apoio institucional e estrutura, como incubadora inicial do projeto. “O lançamento da Ponte acontece num momento em que o modelo comercial do jornalismo tem dado mostras de desgaste, e os próprios jornalistas têm liderado a criação de novos modelos”, diz Natalia Viana, diretora de estratégia da Pública.

Além disso, mais de 60 organizações e pessoas ligadas à área de Direitos Humanos apoiam o lançamento da Ponte.

Leia a seguir o manifesto de lançamento da iniciativa:

Existirmos – A Que Será Que se Destina?

A sociedade brasileira está sob ataque cerrado de grupos de pressão que advogam um Estado crescentemente violento e coercitivo como forma de encobrir as mazelas de um país ainda tão desigual.

Prova disso são os assassinatos de tantos Amarildos todos os dias nas favelas. Mortos pela polícia.

Tais crimes encontram sua origem nos quase 400 anos da escravidão que infelicitou, prendeu, torturou e matou indígenas, africanos e seus descendentes.

Alijada do direito à educação, à terra, à propriedade, à saúde e à moradia digna, a carne negra permanece a mais barata do mercado.

Para manter essa situação, concorreu e concorre fortemente o aparato repressivo do Estado, aí incluídos a Justiça, o exército, as guardas e polícias, até chegar ao mecanismo punitivo e prisional.

É bem verdade que, durante o período de luta pela redemocratização, depois de 21 anos de ditadura civil-militar, a opinião pública pareceu convencida da necessidade de Justiça Social, Racial e de Gênero, Direitos Humanos, Redução da Desigualdade Econômica, Igualdade de Oportunidades. E Paz para todos.

Nesses anos combativos, corações e mentes foram chacoalhados por corajosos e imprescindíveis repórteres, que expuseram ao escrutínio do país a barbárie da violência praticada nas quebradas e delegacias, revelaram a crueldade e corrupção dos grupos de extermínio e esquadrões da morte, denunciaram a miséria do recurso à tortura como “técnica de investigação”.

Essas denúncias, aliadas ao avanço do movimento social, resultaram em importantes políticas públicas garantidoras de direitos aos mais fracos e humildes. Por exemplo, venceu-se a batalha para que fossem endereçados à Justiça comum os crimes de morte cometidos por policiais, surgiu o Estatuto da Criança e do Adolescente e montaram-se as defensorias públicas.

Mas foi só um começo. Muito mais precisa ser feito.

PONTE, novo canal de informação sobre Segurança Pública, Direitos Humanos, Justiça e Democracia, constitui-se neste momento com a convicção de que é inadmissível que a população tenha (com razão tantas vezes) pavor da tropa policial;

Que é inaceitável as cadeias e presídios consumirem orçamentos bilionários para somente impor aos apenados tortura, dor, sofrimento e morte;

Que é incompatível com uma sociedade moderna um Judiciário frequentemente tão injusto: vingativo contra os pobres e oprimidos; leniente com os privilegiados.

Queremos romper com a visão – presente tanto no jornalismo como nas políticas de segurança pública – que privilegia o centro sobre a periferia e o asfalto sobre o morro.

Contra as barreiras e preconceitos, escolhemos a travessia. Por isso, PONTE. Para jogar luz sobre as trevas do preconceito, da mentira, do sensacionalismo e da ignorância.

Não temos chefes. Em uma disputa, ouviremos todos os lados porque não aceitamos nenhuma ligação ou subordinação em relação a partidos, governos, corporações ou confissões religiosas.

Para produzir reportagens que honrem a verdade, nosso método é a independência absoluta, honestidade e autocrítica.

Estamos otimistas com nossa missão e acreditamos que poderemos cumpri-la porque, como nós, há milhões de brasileiros que não aceitam mais a injustiça como doença social crônica. E que anseiam por informação de qualidade para decidir como alcançar um destino melhor.

Fonte: A Pública

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