População negra do Brasil ainda sofre com o preconceito

O Brasil está “muito atrasado” na questão dos direitos da população negra que ainda sofre com preconceito no país, disse à Lusa a vice-directora do Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para a Mulher (Unifem), Júnia Puglia.

Do RPT Notícias 

 

“Estamos atrasadíssimos com uma agenda enorme pela frente. O Brasil demorou muito para reconhecer a contribuição essencial da população africana para a construção do país e a necessidade de tratar as pessoas de forma igual”, afirmou.

Ao referir o Brasil como o último país do mundo a abolir a escravatura, há pouco mais de 100 anos, Puglia ressalta que ainda há “reflexos brutais” do passado escravocrata sobre a sociedade.

A representante da ONU falou à Lusa à margem do lançamento da campanha audiovisual contra o estigma e o preconceito no país que pretende “suscitar a reflexão, o debate e a mudança de atitude” sobre os segmentos estudantil, homossexual, da população negra, dos seropositivos, refugiados e dos profissionais do sexo.

“O que é preciso é trabalhar para construir uma outra forma de nos relacionarmos entre nós através da mudança cultural que é essencial”, salientou.

Júnia Puglia aponta ainda para a necessidade de deixar de lado o peso da história. “Depois de séculos de cegueira a população brasileira está a ser obrigada a se ver como realmente é, uma mistura”.

A história da população negra no Brasil é “muito triste”, comenta. “É uma história de sofrimento, dor e humilhação, mas temos tudo para transformar isso em outra coisa.”

O sistema educacional, como aponta a ONU, “ainda se constitui uma esfera marcada por fortíssimas desigualdades no acesso e na permanência dos indivíduos dos diferentes grupos populacionais”.

Os negros e negras estão menos presentes nas escolas, apresentam médias de anos de estudo inferiores e taxas de analfabetismo “bastante superiores”, informa um comunicado das Nações Unidas.

“As desigualdades se ampliam quanto maior o nível de ensino. A população negra, que, por se encontrar nos estratos de menor renda, é mais cedo pressionada a abandonar os estudos e ingressar no mercado de trabalho”, destaca o documento.

Segundo Puglia, os números indicam que a população negra ocupa os postos menos remunerados, tem muito mais dificuldade de alcançar níveis elevados de profissão e que existe ainda um tratamento discriminatório também no serviço de saúde.

“Por exemplo, as gestantes negras recebem menos atenção e um tratamento secundário nos hospitais”, critica.

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