Por que é uma conquista ter mulheres plus size na capa da Playboy e da Vogue

Faz furor nos últimos dias de 2016 a primeira capa da famosa – mas já não tão vendável – revista Playboy com a modelo “plus size” Fluvia Lacerda. A repercussão nas redes sociais é grande e a publicação conseguiu um barulho de mídia há muito esquecido. Mas, detalhe importante: a revista da modelo fora dos padrões nua não estará em todas as bancas e pontos de venda do Brasil; trata-se de uma “edição de colecionador”, vendida apenas na internet.

Fonte: Huffpost Brasil

Boa jogada de marketing da Playboy: faz bonito com as mídias sociais – aquelas que discutem a quebra do padrão de beleza modelo 36 ainda vigente com força no mundo -, gera publicidade, mas não quebra a imagem de décadas da revista nas bancas, aquela que sempre priorizou modelos e atrizes magras. Muito magras.

Ao mesmo tempo, o maior símbolo das revistas de moda, a Vogue, trará na capa da edição britânica de janeiro a modelo plus size mais famosa do mundo, Ashley Graham. A modelo já foi capa em 2016 da edição de biquíni da Sports Illustrated, edição anual da revista de esportes recheada por mulheres, obviamente, magras. Parece que é o momento da discussão plus size – termo, por si, já muito preconceituoso, por indicar que a mulher com esse corpo está somando algo ao que deveria ser, ou seja, ela está acima do que deveria.

Há que se pensar: “Não é uma conquista para a batalha pelo corpo livre ver uma mulher nua com com corpo real na principal revista desse gênero no mundo?”. A força da revista impressa reside hoje muito mais na marca forte, como é o caso da Playboy, e menos no impacto de vendas. Nesse contexto, trabalhar uma boa estratégia digital garante mais retorno para a revista do que garantir a venda em bancas.

Mas e o fato social gerado por essa quebra de paradigma, a mulher gorda nua na capa da revista famosa? Quão grande mudança não seria ver a mais famosa revista de “mulher pelada” do mundo com uma modelo de formas mais próximas ao real estampando as bancas de jornal do Brasil?

Para tal realidade, precisamos sair do paradigma machista de “gordinha é gostosa pra transar, mas não pra namorar” ou “nossa, ela é tão linda de rosto, se ela emagrecesse seria um arraso”, que vigora em decisões como essa da Playboy. “Vamos nos divertir com esse mulherão, mas para a sociedade precisamos estar apresentáveis, não é?”

Precisamos reconhecer e valorizar belezas como as de Fluvia, chamada no mundo da moda a “Giselle Bundchen Plus Size”. Fluvia diz em entrevistas vestir tamanho 48, tamanho muito mais próximo do corpo real da mulher brasileira – lojas de departamento registram os números 44 e 46, em geral, como os campeões de vendas de peças de roupa. Enquanto isso, nas passarelas, a modelo de tamanho 38 é considerada gorda.

Tal distorção entre o sonho do corpo dito perfeito e a realidade cobra preço alto. Pesquisa do periódico científico British Journal of Psychiatry, publicada em 2015, mostra que, aos oito anos, 5% das meninas estão insatisfeitas com a aparência de seu corpo, número que sobe para alarmantes 32% aos 14 anos.

Com a pressão de perfis fits de Instagram e de blogueiras de sucesso, números como esses só tendem a aumentar. Precisamos de muitas capas de Playboy com Fluvia, capas de Vogue com Ashley Grahan e muita repercussão na internet para começar a mudar um pouco essa imagem tão distorcida do corpo ainda preso e obediente da mulher.

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