Aparentemente, não há nada mais desconfortável para um homem do que sua parceira receber um salário maior do que o dele.
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Nos Estados Unidos, de acordo com dados de 2016 do Bureau of Labor Statistics, 29% das mulheres americanas em casamentos heterossexuais ganham mais que os seus maridos.
Estamos em 2018, mas algumas características da fragilidade do ego masculino ainda permanecem. E, aparentemente, não há nada mais desconfortável para um homem do que sua parceira receber um salário maior do que o dele.
A proporção de mulheres que ganham mais que seus companheiros ainda é bem pequena, porém ela está crescendo. Nos Estados Unidos, de acordo com dados de 2016 do Bureau of Labor Statistics, 29% das mulheres americanas em casamentos heterossexuais ganham mais que os seus maridos.
Em 1987, por exemplo, apenas 18% das esposas declararam ser o principal provedor da família. Outro relatório do instituto de 2009 mostrou que as mulheres eram as únicas responsáveis pela renda de cerca de 9% dos lares, mesmo estando casadas.
Tendo em vista a desiguadade salarial que ainda persiste no mundo, estes dados deveriam ser comemorados, certo? Mais ou menos. Outra pesquisa feita no país demonstou que, quando as mulheres ganham mais, tanto maridos quanto as esposas se sentem desconfortáveis no relacionamento – a ponto de precisarem mentir sobre os seus salários.
Publicado em junho, o relatório do Bureau of Labor Statistics Manning up and womaning down: How husbands and wives report their earnings when she earns more (Como maridos e esposas relatam seus salários quando ela ganha mais, em tradução literal) comparou o comportamento de diversos casais em relação aos valores dos seus salário quando eles eram entrevistados pela instituição e confrontados com os dados que eles disponibilizavam para a receita federal americana.
Nos casamentos heterossexuais em que as mulheres ganhavam mais, elas mentiram sobre o real salário. Em média, elas disseram que ganhavam 1,5% a menos do valor real. Já os maridos disseram que ganharam 2,9% a mais do que eles realmente ganhavam.
As pesquisadoras responsáveis pelo relatório concluíram que as respostas se baseavam na expectativa do senso comum de que o homem ganhe mais do que a mulher. Então, ao mentir sobre os salários, consciente ou inconscientemente os entrevistados tentavam se adequar aos padrões sociais.
Para os pesquisadores de questões de gênero, há uma “aversão” às mulheres que são responsáveis financeiramente por suas famílias. Um estudo publicado pela Associação Americana de Psicologia chegou a relatar que a autoestima de um homem sofre impactos quando sua parceira o supera em níveis salariais. As mulheres, por outro lado, não costumam ser afetadas pelo sucesso de seus parceiros.
De acordo com o NY Times, o relatório mostra o quão frágil os papéis de gênero podem ser – e quão devagar são as mudanças que realmente afetam o dia a dia das pessoas.
Hoje em dia, as mulheres estão cada vez mais propensas a valorizar suas carreiras e sua educação, para além das atividades como a maternidade e os cuidados do lar. Porém, o trabalho doméstico ainda é visto com a prioridade em grande parte dos casamentos.
Desigualdade salarial no Brasil
Apesar dos avanços lentos, no Brasil as mulheres ainda ganham salários bem menores que os homens, mesmo desempenhando funções e cargos similares – cerca de 25% a menos.
Elas são a maioria com formação no ensino superior, mas têm rendimento médio mensal no valor de R$ 1.764, enquanto os homens têm de R$ 2.306, de acordo com dados do IBGE.
Por outro lado, as mulheres dedicam cerca de 19 horas semanais as tarefas domésticas, enquanto entre eles essa taxa é de 10 horas.