Por que não conseguimos superar o racismo?

Numa época em que o homem se redescobre mais frágil por causa da pandemia, os protestos contra o racismo, que explodiram em Minnesota por causa do caso Floyd, espalharam-se por outros estados do país e depois explodiram com manifestações também fora das fronteiras continentais, mostram a finitude do ser humano. Quando falamos em racismo, provavelmente devemos partir de sua definição: “Qualquer tendência, psicológica ou política, susceptível de ascender à teoria ou de ser legitimada por lei,  que, com base na suposta superioridade de uma raça sobre outras ou sobre outra, favorece ou leva à discriminação social ou mesmo ao genocídio”. Sim, genocídio. A isso pode levar o ódio racial e a história nos ensina isso.

Tudo começou há 20 dias

De Minneapolis a Nova York. De Londres a Paris, até à manifestação pacífica da semana passada em Roma. Do Pacífico ao Oceano Índico, já que os protestos também explodiram no Quênia. A morte de George Floyd está caracterizando este final de primavera no hemisfério norte. Lembraremos, é claro, da pandemia da Covid-19, mas há quase três semanas a tragédia epocal do novo coronavírus tem sido acompanhada pela questão racial nas notícias ao redor do mundo. Após o assassinato de Floyd, outras mortes ligadas a prisões pela polícia dos EUA inflamaram as praças. Sejam precedentes, mas também sucessivas (em Atlanta, com o afro-americano Rayshard Brooks, morto por um policial após uma briga durante a prisão). As consequências são importantes: há aqueles que acreditam que terão um forte impacto nas próximas eleições dos Estados Unidos, aqueles que afirmam que vão mudar a agenda política pós-pandemia.

A África também exige justiça

Há apenas três dias, países africanos convidaram o Conselho de Direitos Humanos da ONU a discutir urgentemente o racismo e a violência policial no contexto da mobilização mundial que se seguiu à morte de Floyd. Numa carta em nome de 54 países africanos, o embaixador de Burkina Faso na ONU em Genebra apresentou oficialmente um pedido com forte valor simbólico, cujo eco chega muito além das fronteiras da África. A questão, naturalmente, não é apenas política, mas também sócio-antropológica. O que leva o homem a temer, ao ponto de condená-lo, quem é diferente dele? As motivações são psicológicas, fazem parte da história do ser humano ou estão ligadas a momentos particulares e fatores econômicos? Em essência, por que também no século 21 estamos ainda falando de racismo?

O legado do colonialismo

“A questão racial tem nome e sobrenome e está ligada ao legado do colonialismo”. Foi o quem disse em entrevista ao Vatican News Paolo De Stefani, professor da Universidade de Pádua e membro do Centro Universitário de Direitos Humanos “Antonio Papisca”.

“A pandemia e as manifestações desses dias estão ligadas, pois a emergência do coronavírus tem mostrado uma série de contradições”, acrescenta De Stefani. “O sistema protege mais quem já está protegido, além disso o mantra econômico previa austeridade, enquanto agora – sublinha – chegam bilhões para serem gastos: as pessoas estão confusas”. Mas como será superada esta crise? “Certamente não graças ao homem branco”. Serão as minorias oprimidas nos últimos anos, dos afro-europeus aos afro-americanos, que vão fortalecer sua identidade, torná-la mais estrutural”, conclui o especialista em direitos humanos.

Nenhuma tolerância ao racismo

“Não podemos pretender defender a sacralidade de toda a vida humana e fechar os olhos ao racismo e à exclusão”. O Papa afirmou isso na Audiência Geral de quarta-feira, 3 de junho, ressaltando que não pode haver tolerância ao racismo e também condenando “todas as formas de violência, das quais nada se ganha e muito se perde”. As palavras de Francisco foram precedidas pelos discursos dos bispos estadunidenses, que expressaram compreensão pela indignação da comunidade afro-americana, apontando como o racismo foi tolerado por muito tempo, mas também como a violência é autodestrutiva.

+ sobre o tema

Geledés participa de audiência sobre Educação das meninas e mulheres negras na Câmara dos Deputados

Geledés – Instituto da Mulher Negra participou, nesta quinta-feira...

Grupo de mulheres brasileiras atua nas Nações Unidas contra o racismo

Em reportagem da TVT, Maria Sylvia de Oliveira, advogada...

No Paraná, letra dos Racionais MC’s ajuda na remição de pena

Uma decisão do Tribunal de Justiça do Paraná considerou...

Conceição Evaristo, a intelectual do ano

Quando Conceição Evaristo me vem à memória fico feliz,...

para lembrar

Péricles diz que sucesso na música trouxe respeito a ele: ‘Homem negro e gordo’

O cantor Péricles está ativo na música desde os...

Michelle Obama e irmão relembram dia em que ele foi acusado de roubar a própria bicicleta

O racismo e brutalidade policial sofrido pela família de...

Candidato a prefeito de SP, Orlando Silva presta queixa por racismo

O candidato do PCdoB à prefeitura de São Paulo,...

Procedimento vai investigar ações de combate ao racismo por empresas privadas de vigilância do Acre

O Ministério Público Federal (MPF-AC) instaurou um procedimento administrativo...
spot_imgspot_img

Luísa Sonza fecha acordo por fim de processo por racismo contra advogada

A cantora Luísa Sonza fechou um acordo com a advogada Isabel Macedo para encerrar o processo em que era acusada de racismo. O trato...

Camilo Cristófaro é cassado por falas racistas e perde mandato de vereador em SP

Após 503 dias, a Câmara Municipal de São Paulo aprovou nesta terça (19) a cassação do mandato do vereador Camilo Cristófaro (Avante) por quebra de decoro...

Cristófaro é o 4º vereador cassado em SP desde a redemocratização

Acusado de racismo, o advogado Camilo Cristófaro, 62, (Avante) se tornou o quarto vereador de São Paulo cassado desde a redemocratização do país. A lista não...
-+=