Quando Zozibini Tunzi participou das manifestações do movimento Black Lives Matter em Nova York, a Miss Universo tinha em mente quantos jovens negros em seu país natal, a África do Sul, morreram lutando pela mesma causa há 44 anos.
– Os estudantes sul-africanos protestavam contra o racismo sistêmico – diz Tunzi, de 26 anos, lembrando da manifestação em Soweto, quando dezenas de milhares de estudantes se uniram contra o apartheid que segregava e controlava a maioria negra. – Muitos anos depois, isso ainda acontece, não apenas na Àfrica do Sul, mas em todo o mundo – diz a Miss Universo, que passa em Nova York o ano de seu reinado no mais importante concurso de beleza do mundo.
Uma das poucas mulheres negras a ganhar o título, Tunzi planejava usar a influência do posto para desafiar o racismo, a desigualdade e as percepções de beleza – isso ainda antes do movimento Black Lives Matter sacudir centenas de cidades americanas.
Mais de 25 anos depois do fim do apartheid, a África do Sul é considerado um dos países mais desiguais do mundo, de acordo com o Banco Mundial. Tunzi cresceu ao lado de quatro irmãs em uma área rural do país e começou a participar de concursos de beleza em igrejas locais quando tinha apenas 6 anos – sua mãe acreditava que isso ajudaria a menina a fazer amigos. Mas a Miss Universo diz que, apesar da participação precoce nos concursos, nunca foi fã de vestidos ou maquiagem: ela gostava mesmo é de ser chamada a opinar sobre o mundo.
– As mulheres não têm muitas plataformas para compartilhar suas opiniões e eu pensei: essa é a minha oportunidade de falar e dizer coisas importantes.
A pandemia de Covid-19 limitou suas ações, e Tunzi confessa que em alguns momentos sentiu que estava de mãos atadas. Mas ela tem usado as redes sociais – tem 2,7 milhões de seguidores no Instagram – e as do concurso Miss Universo para ecoar seu discurso.
As iniciativas de Tunzi como Miss Universo são fruto das ambições que tinha ao entrar no concurso Miss África do Sul, em 2017: ter uma plataforma para sua visão de mundo porque estava cansada de não ver mulheres negras representadas nas revistas de moda. Naquele ano, ela chegou à semifinal; dois anos depois, se tornou Miss Universo.
– Eu lembro de crescer abrindo revistas e não me reconhecer nelas e sentir que não estava representada. Então, eu pensei: “Vou resolver dois problemas de uma só vez.”
Tunzi ganhou apoio para realizar suas ambições usando seu cabelo crespo natural, não cedendo à pressão para usar uma peruca ou alongamentos.
– As pessoas têm falado sobre isso desde o concurso, e fico feliz que falem. Mas espero que cheguemos a um momento em que, quando uma mulher usar seu cabelo natural, ninguém vai perguntar o porquê. Meu cabelo é assim, ele cresce na minha cabeça, e esse é o porquê!
O cabelo pode parecer um assunto trivial, mas Tunzi lembra que, em 2016, a adolescente Zulaikha Patel, então com 13 anos, iniciou protestos contra a exigência de cortar o cabelo feita por sua escola aos estudantes negros. Ela e seus colegas se manifestaram e a escola teve que mudar sua política.
– Eles não protestaram apenas pelo cabelo. Eles protestaram para desmanchar o sistema que os confrontava.