A ‘inteligência artificial’ e o racismo

Diretrizes éticas criadas para regular conteúdos de modelos de linguagem têm se revelado ineficazes

Usar o que se convencionou chamar de “inteligência artificial” (pois não é inteligente) para realizar tarefas diárias é cada vez mais comum. Existem ferramentas que, em geral, facilitam a vida. Contudo, se utilizadas para fomentar estereótipos que impactam negativamente milhões de pessoas, um problema grave está instalado.

Há muito se supunha que a “IA” poderia servir para reproduzir o racismo. Tratei do tema na coluna “Códigos de preconceito”, em 2021. O que era hipótese ganhou ares de certeza com a publicação, pela Universidade Cornell, de um estudo de pesquisadores do Instituto Allen de Inteligência Artificial. O documento revela que “à medida que as ferramentas de ‘IA’ ficam ‘mais inteligentes’, se tornam mais racistas”.

Modelos de linguagem como ChatGPT (da OpenAI) e Gemini (do Google) mantêm estereótipos racistas sobre falantes do inglês vernacular afro-americano (criado por negros) e tendem a descrevê-los como “estúpidos e preguiçosos”. Além disso, a “IA” se mostrou mais propensa a recomendar a pena de morte a réus que usam esse dialeto e a indicar salários e empregos piores aos falantes da linguagem.

Práticas racistas são multifacetadas. Vão de agressões disfarçadas de elogios (negra bonita!) até insultos verbais (macaco!) e violência física. Frente à sofisticação da camuflagem do racismo, diretrizes éticas criadas para regular conteúdos de modelos de linguagem têm se revelado ineficazes.
“Inteligência artificial” não é mágica. São humanos que decidem o que as máquinas fazem. Assim, elas reproduzem crenças sociais e têm servido de instrumento de discriminação, violando princípios, como a igualdade.

É equivocado atribuir a uma ferramenta a responsabilidade por problemas criados por pessoas. Mas
também é evidente que, ao ser desenvolvida com dados analisados por uma perspectiva racista, a “IA” multiplica e até aprofunda desigualdades e injustiças que ameaçam grupos sociais predeterminados.

+ sobre o tema

Injúria racial e racismo no ordenamento brasileiro

  Ressalte-se que a injúria racial é prescritível,...

Copa do Mundo: Árbitros podem suspender jogos em caso de racismo

O presidente da Fifa, Gianni Infantino, falou sobre assuntos...

México vê aumento de violência após 11 anos de intervenção militar

Socióloga aponta que Rio corre o mesmo risco se...

para lembrar

Woodley volta a reclamar de racismo no esporte: “Não se trata de preto e branco”

Campeão dos meio-médios do UFC alegou que racismo envolve...

PM mata jovem negro com tiro no peito na zona sul de São Paulo

O autônomo Ricardo Lopes, 46, diz ter feito o...

Psiquiatra chama modelo negra de ‘aberração da natureza’ e é suspenso de universidade americana

A Universidade de Columbia suspendeu o Dr. Jeffrey Lieberman,...

Torcida do Coritiba fez manifestação racista no Atletiba

A rivalidade sadia do futebol foi substituída por uma...
spot_imgspot_img

Nem a tragédia está imune ao racismo

Uma das marcas do Brasil já foi cantada de diferentes formas, mas ficou muito conhecida pelo verso de Jorge Ben: "um país tropical, abençoado...

Futuro está em construção no Rio Grande do Sul

Não é demais repetir nem insistir. A tragédia socioclimática que colapsou o Rio Grande do Sul é inédita em intensidade, tamanho, duração. Nunca, de...

Kelly Rowland abre motivo de discussão com segurança em Cannes: ‘Tenho limites’

Kelly Rowland falou à imprensa sobre a discussão que teve com uma segurança no tapete vermelho do Festival de Cannes durante essa semana. A cantora compartilhou seu...
-+=