Até quando vamos aturar a violação de direitos humanos e seguir convivendo com a barbárie institucionalizada no país? Mais de 79% dos mortos pela polícia no Brasil são negros. Um caso mais estarrecedor que o outro.
Condolências e promessas de investigação são gestos de civilidade importantes e necessários, mas absolutamente insuficientes diante da realidade macabra. É hora de agir em prol de resultados que coloquem algum freio nessa sanha pelo extermínio da população negra.
O assassinato de George Floyd, asfixiado por um policial branco nos EUA, causou comoção global. Passados dois anos, culpados foram punidos e uma reforma da polícia federal foi anunciada pelo presidente americano. “A mensagem das ruas foi clara: basta!”, disse Joe Biden.
Enquanto isso, o Brasil insiste em seguir na contramão, com autoridade elogiando operação policial cujo saldo foi a morte de 23 pessoas no RJ —sendo 13 delas sem antecedentes criminais—, parabenizando a polícia por “neutralizar” criminosos. É a validação da máxima de que “bandido bom é bandido morto”, sendo que “bandido” costuma ter cor no Brasil.
Nessa toada, Genivaldo de Jesus Santos, um brasileiro negro, pobre e com esquizofrenia, foi abordado por policiais rodoviários federais no Sergipe por conduzir uma motocicleta sem usar o capacete. A infração, gravíssima pelo Código de Trânsito Brasileiro, prevê multa e suspensão do direito de dirigir por oito meses. Bem diferente do que aconteceu com ele.
Imobilizado, pés e mãos amarrados, o homem foi chutado, pisoteado e jogado no porta-malas de uma viatura onde se debateria até a morte após ser trancado com uma bomba de gás lacrimogêneo. Tortura é prática proibida pela Constituição Federal. Mas Genivaldo não teve voz nem vez.
Submetido à sessão pública de sevícia, gravada e exposta aos olhos do mundo, morreu numa espécie de câmara de gás privativa por asfixia mecânica e insuficiência respiratória aguda, segundo laudo do IML. Até quando?