Esta estampa da Farm levantou um novo debate sobre racismo no mercado da moda

Após reação indignada dos consumidores, marca pediu desculpas e tirou peça de circulação.

Por Amauri Terto, do HuffPost Brasil

Divulgação

De acordo com a marca, “ilustração refere-se a uma cena cotidiana do período pós-colonial”.

A marca de roupas Farm recebeu uma avalanche de críticas nas redes sociais nesta segunda-feira (10) após divulgar uma nova estampa que retrata um cenário do Brasil do século 19.

A movimentação nas redes da grife começou depois que o blogueiro carioca José Carlos Angelo da Conceição notou que o desenho reproduz pessoas negras como escravas e compartilhou em seu perfil no Facebook.

Na legenda da imagem, o blogueiro escreveu o seguinte questionamento:

“Eu realmente estou bem cansado de dar ibope pra branco. Mas é impressão minha ou a Farm fez uma reprodução da polêmica estampa da Maria Filó com mulheres negras representadas como escravas na Casa Grande?!”

A mensagem fazia referência a um caso parecido que ocorreu com outra marca.

No ano passado, a Maria Filó também foi criticada ao divulgar uma peça que trazia estampada uma mulher negra escravizada servindo uma senhora branca, cercada de outras negras que cozinhavam em um tacho.

Na estampa da Farm é possível ver uma ilustração com mulheres e homens negros trabalhando num cenário próprio do Brasil Colônia, período em que a escravidão movimentava a economia do País.

O questionamento de José Carlos viralizou, gerando centenas de críticas à marca.

No domingo (9), antes do post do blogueiro, a estudante de arquitetura, ativista feminista negra Stephanie Ribeiro também usou seu perfil no Facebook para criticar e cobrar um posicionamento da marca:

A adoro FARM criou uma blusa com estampa que me remete a ESCRAVOS novamente, novamente pois a Maria Filó fez algo parecido e foi super criticada. O que é isso? Pq a Farm está propondo isso? Qual a finalidade disso?


No final da tarde desta segunda (11), a Farm apagou as fotos da estampa de suas redes sociais e postou um pedido de desculpas afirmando que a peça seria removida das lojas.

Na sequência, publicou uma mensagem em resposta aos comentários dos consumidores:

“Esta é a nossa estampa Rua do Mar. Ficamos tristes com a repercussão negativa despertada por ela. Não era esta a nossa intenção. Estamos retirando as peças do nosso site e lojas. Pedimos desculpas a todos pelos sentimentos negativos gerados.”

O pedido de desculpas gerou controvérsia entre os seguidores da página:

Em nota enviada ao jornal O Globo, a assessoria de imprensa da marca reforçou o pedido de “desculpas a todos pelo sentimento negativo gerado”:

“Devido à polêmica em relação à estampa “Rua do Mar”, utilizada na atual coleção, a FARM esclarece que a ilustração refere-se a uma cena cotidiana do período pós-colonial, desenhada em preto e branco. No último sábado, a estampa começou a ser criticada como racista. Mesmo a marca não tendo esta intenção, a simples associação negativa fez com que a FARM começasse a recolher as peças das lojas e do site. A FARM disponibilizou a arte da estampa, através de sua assessoria, a fim de facilitar a apuração dos fatos pela imprensa e pede desculpas a todos pelo sentimento negativo gerado.”

Essa não é a primeira vez que a Farm se envolve em polêmica relacionada à questão racial no Brasil.

Em 2015, a marca usou uma modelo branca para homenagear Iemanjá no dia de Nossa Senhora da Conceição. Como se sabe, divindade das águas é de origem africana.

 

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