Dia 25 de Outubro de 2015. Redação do Enem. O tema? Poderia ser a crise econômica, o empobrecimento da população através da baixa do crescimento do PIB. Outra possibilidade era discutir a situação dos refugiados e os tópicos políticos envolvidos no assunto. Porém, o MEC decidiu que seria A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira.
Por Alan Lima, do Conti Outra
Todos os temas que acabei de citar são importantes. Nenhum deles é banal. Em qualquer um o aluno poderia seguir diversos caminhos para elaborar o texto. O meu assombro veio quando percebi que algumas pessoas não querem falar sobre violência contra a mulher. Por quê?
Não vou me limitar. Pode ser que não dominem o assunto (realmente as nossas escolas não nos preparam pra falar disso), porém a medida que manifestam raiva do assunto, fico assustado. Já que, na minha cabeça, só é possível odiar coisas que possuo o mínimo de conhecimento. Eu não odeio ETs de Plutão, nem o Iphone 15, ou o Android 96.5 , são objetos distantes da minha realidade.
Uma das críticas ao tema é um suposto teor de esquerda. É cômico imaginar que só pessoas de esquerda querem tratar deste tema. Minha Mãe não era de esquerda, nem de direita, nem nada. E enquanto ela apanhava do meu padrasto, quando eu tinha 7 anos, eu corri na casa dos vizinhos sem me preocupar com qual partido político eles defendiam. Eu só queria a minha mãe em segurança.
Assisti homens baterem na mulher que mais amo nessa vida e ninguém queria falar sobre o assunto. Era tabu. Eu me deprimi. As cenas eram insuportáveis. A minha escola não falou disso. Estudei a vida toda e nunca entraram nesse assunto. Minha única saída era correr e pedir ajuda.
Eu não sou de esquerda, eu não sou de direita. Eu sou gente. Façam o favor de enxergarem além de suas disputas eleitorais. As mulheres, mães ou não, já enfrentam muita agressão pra terem que esperar vocês abandonarem as brigas partidárias.
Que não seja só tema de uma redação, que seja tema de músicas, filmes, documentários, propagandas, capinha de celular.
Os seus partidos, suas ideologias, seus teóricos políticos, juntem todos eles e não valem uma mulher em segurança e livre do perigo dos socos de alguém.
Paraense, estudante de Letras e lutador de artes palavriais se existir esta luta. Quer ser autor de pelo menos um livro legal e professor. De crônicas esportivas a poesia sob encomenda, redator ao seu dispor, escreve até suar as sobrancelhas.