Portugal: violência doméstica na mira da Amnistia Internacional

46 denúncias por dia e mais 11 homicídios conjugais do que em 2011. Polícia e efeitos da austeridade também são apontados

 

O uso excessivo da força por parte da polícia. A «preocupação séria» com o crescimento significativo dos números relativos à violência doméstica. E os efeitos da austeridade sobre os direitos de grupos socialmente vulneráveis. São estes, em resumo, os três fatores que justificam a inclusão de Portugal no relatório anual sobre direitos humanos, divulgado pela Amnistia Internacional (AI) nesta quinta-feira.

O primeiro item é sustentado por alguns incidentes específicos, de que são exemplo as agressões policiais a dois jornalistas em Lisboa, durante as manifestações de 22 de março, promovidas pela Plataforma 15 de Outubro, contra as medidas de austeridade. O relatório da AI sublinha o uso de «força excessiva contra manifestantes pacíficos» registado em vários momentos ao longo desse dia.

A carga policial nas imediações da Assembleia da República, durante a manifestação de 14 de novembro, em plena greve geral, culminou com a detenção de nove manifestantes que, segundo a AI, além de não terem tido acesso atempado a representação legal, não terão sido informados dos motivos que a determinaram. Os incidentes desse dia tiveram 48 feridos como balanço.

Também a detenção, pela GNR, de um elemento de uma comunidade cigana, na localidade de Vila Verde, no passado mês de setembro, ilustra o «uso de força excessiva», com acusações de espancamento e abusos verbais a nove elementos da referida comunidade, incluindo crianças, por parte de 30 agentes da autoridade.

Mais 1200 queixas por violência doméstica no ano de 2012, um acréscimo de quatro casos por dia em relação a 2011, sustentam um dos principais motivos de preocupação acerca de Portugal no relatório da AI: houve um total de 16970 queixas registadas pela APAV, à média de 46 por dia, e com um aumento importante nas denúncias por parte de idosos. A associação UMAR, por seu lado, deu conta de 36 mortes em consequência destes casos, apenas entre os meses de janeiro e setembro. A título de comparação, em todo o ano de 2011 tinham sido registados menos 11 casos.

Por fim, o relatório centra-se nas observações do Comité dos Direitos Humanos das Nações Unidas sobre Portugal, que incidiam nos direitos das pessoas detidas sob custódia policial, nas condições prisionais, na violência doméstica e na discriminação contra migrantes e minorias étnicas, incluindo a comunidade cigana. Por sua vez, na sua visita a Portugal, o Comissário para os Direitos Humanos do Conselho da Europa referiu a discriminação prolongada contra as comunidades ciganas e o impacto das medidas de austeridade financeira nos direitos das crianças e idosos como fatores de preocupação detetados em 2012.

 

Portugal criticado por abuso de força policial e violência contra mulheres

Violência doméstica: milhares de russas obrigadas a sofrer em silêncio

Fonte: TVi 24

 

+ sobre o tema

Duas médicas explicam porque aceitaram o Mais Médicos

Duas médicas do grupo de 45 profissionais que passará...

Fármaco brasileiro mostra bons resultados contra anemia falciforme

Por Karina Toledo Agência FAPESP – Um fármaco...

Maria da Ilha, um retrato da catarinense Antonieta de Barros em crônicas

Professora e política, ela também fundou jornais e escreveu...

Vamos para onde os brasileiros não vão, diz cubano vaiado por médicos

Um dos médicos cubanos vaiados na noite de...

para lembrar

Homens e mulheres concordam: o preconceito de gênero interfere no salário

De 13 perguntas da pesquisa Mitos & Verdades, feita...

Mulher Negra Brasileira Um Retrato – Rebecca Reichmann

A opinião publica brasileira raramente reconhece ou critica os...

Diálogos Feministas: Análise de conjuntura e desafios para a defesa da democracia

Esta publicação traz uma síntese do debate realizado: uma...

Thorning-Schmidt é nomeada primeira-ministra da Dinamarca

A líder dos social-democratas dinamarqueses, Helle Thorning-Schmidt, foi oficialmente...
spot_imgspot_img

O atraso do atraso

A semana apenas começava, quando a boa-nova vinda do outro lado do Atlântico se espalhou. A França, em votação maiúscula no Parlamento (780 votos em...

Homens ganhavam, em 2021, 16,3% a mais que mulheres, diz pesquisa

Os homens eram maioria entre os empregados por empresas e também tinham uma média salarial 16,3% maior que as mulheres em 2021, indica a...

Escolhas desiguais e o papel dos modelos sociais

Modelos femininos em áreas dominadas por homens afetam as escolhas das mulheres? Um estudo realizado em uma universidade americana procurou fornecer suporte empírico para...
-+=