A Prada tornou-se a mais recente marca a ser alvo de acusações de racismo após um objeto com o rosto escuro e grandes lábios vermelhos ter sido visto como incomodamente semelhante às caricaturas racistas de rostos negros do passado.
Por Sandra Halliday Do Fashion Network
A personagem foi criada como parte da coleção Pradamalia e foi lançada há algumas semanas, mas o furor começou após a semelhança com as caricaturas de rostos negros ter sido destacada por Chinyere Ezie, uma advogada do Centro de Direitos Constitucionais.
Acabada de regressar de uma visita ao Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana de Washington, Ezie detetou de imediato as semelhanças com as imagens de rostos negros que viu no museu, tendo partilhado imagens da personagem negra do século XIX, Sambo, e das montras da Prada numa publicação no Facebook para mostrar as parecenças e, a partir daí, as reações multiplicaram-se.
Uma elevada quantidade de comentários negativos levaram a Prada a retirar rapidamente o objeto e todos os artigos nos quais aparecia a personagem em questão, incluindo uma grande variedade de acessórios e peças de vestuário.
Ainda que o racismo não tenha sido deliberado, a rápida reação da Prada revela a consciência quanto aos danos que podem causar à marca estas acusações de racismo, especialmente depois daquela que parece ter sido uma reação inadequada da Dolce & Gabbana após uma recente acusação de racismo.
A lenta reação dos fundadores da D&G prejudicou a imagem da marca na China e ainda não se sabe se será capaz de recuperar.
“A Pradamalia consiste em objetos de fantasia compostos por elementos da obra da Prada. São criaturas imaginárias que não têm qualquer intenção de fazer referência a nada do mundo real nem, de maneira nenhuma, a rostos negros. O grupo Prada nunca teve a intenção de ofender ninguém e abominamos todas as formas de racismo e imagens racistas. Nesse sentido, vamos remover todas as personagens em questão de exposição e de circulação”, declarou a Prada num comunicado.
Esta situação realça o problema que a moda, na sua constante procura por novidades, enfrenta num momento em que qualquer indício de racismo, apropriação cultural ou falta de sensibilidade em geral pode fazer disparar alarmes, ser compartilhado e tornar-se viral numa questão de horas. Como mencionado anteriormente, a Dolce & Gabbana ainda está a recuperar disso e tanto a H&M e como a Gap foram criticadas após algumas ações de marketing involuntariamente racistas terem sido notícia, o que mostra que o problema pode afetar empresas que operam em todos os escalões de preços.
O facto é que, num setor da moda direcionado para compradores de todo o mundo e num mundo no qual os consumidores querem que as marcas que compram sejam vistas como boas, em vez de incomodarem as pessoas, as marcas precisam de ser muito mais conscientes.
Longe vão os dias em que ‘Navajo’ ou ‘Maasai’ eram termos frequentemente utilizados em coleções de moda, em que não se comentava se nas passarelas só havia modelos brancos ou mesmo nos quais era bem visto se modelos brancos fossem maquilhados para que parecessem negros em revistas e passarelas. A mesma consciência deve ser aplicada a algo tão aparentemente inócuo como o acessório de uma carteira.