Empresária compôs a mesa de discussão sobre o Panorama Mulher 2018, que analisou a presença das mulheres na presidência das empresas
Por Laura Prado Do Época Negócios
Somos as mesmas em várias batalhas.” Foi o que disse Rachel Maia, ex-CEO da Pandora e um dos principais símbolos de representatividade feminina e negra em grandes empresas, sobre o pequeno número de mulheres negras na plateia. A empresária foi uma das convidadas da apresentação do Panorama Mulher 2018, estudo da Talenses e do Insper que concluiu que apenas 18% das empresas brasileiras têm mulheres como presidentes.
“Nós nos fortalecemos vendo umas às outras”, completou. Essa, segundo ela, é a resposta para quem pergunta sobre as mazelas que sofreu e sobre como conseguiu fazer a diferença. “O que me fez estar na mesa com investidores foi o meu currículo. O que me fazia querer ir para o hotel e ficar fechadinha era ser a única. Nós precisamos ver os nossos para nos fortalecer.”
As falas refletem o cenário mostrado pelo estudo, que analisou empresas com sede no Brasil, na América do Norte e na Europa. A média geral de mulheres na presidência é de 15%. Em seu segundo ano consecutivo, a pesquisa também concluiu que, entre todas as empresas, apenas 7% têm um negro ou negra como presidente. A amostragem não permitiu um recorte de gênero no dado, mas a baixa presença feminina no cargo dá indícios de que ele seria significativamente menor.
Uma mudança no cenário depende, principalmente, da mudança de mentalidade das empresas e da sociedade. Mas a coordenadora também aponta as mulheres como agentes de transformação – e Rachel Maia concorda. “Nós não precisamos necessariamente dizer que eles têm que nos engolir, e eles não têm que nos aceitar em função do gênero. Precisamos mostrar, através de qualificação, o porquê de devermos sentar nessa principal carreira.”
Isso, segundo ela, também se aplica à raça. Mais do que impor a presença, seria necessário mostrar que ela está ausente – as causas para isso, porém, seriam “outra história”, incluindo fatores sociais e a necessidade de empoderar jovens periféricos. “Precisamos encorajar talentos a sairem das periferias e buscarem as grandes empresas”, defende.
A empresária explica que as mudanças não dependem apenas de convicções e boa vontade. Em muitos casos, um presidente se depara com gestores que não se convencem da importância das medidas. “Muitas vezes é a caneta que tem que falar. As coisas são impositivas no início para que eles façam que ela entre e acelere”, diz. Estar presente, mostrando por que e como colocá-las em prática, seria um fator ainda mais decisivo.
Em entrevista a Época NEGÓCIOS, ela falou sobre a experiência que teve ao incluir pessoas com deficiência nas lojas da Pandora, quando ainda era CEO. “Eles diziam ‘e se tivermos que carregar caixa?’, e eu dizia ‘se vocês têm sete na loja, coloquem os outros seis para carregar'”.
Em relação à presença feminina, Pedro Pittella, diretor de RH da Sanofi no Brasil, também apontou a necessidade de as ações irem além das políticas da empresa. Segundo ele, garantir que em todo painel de seleção haja ao menos uma mulher como entrevistadora é uma das medidas possíveis. O estudo do viés inconsciente é outra delas. “Estamos fazendo treinamentos sobre isso para todos os times de RH e está sendo muito interessante. Nós começamos a nos dar conta do que não sabíamos, e é muito mais do que fato sabíamos.”
Por fim, Rachel Maia aponta que o princípio de respeito é o ponto inicial de tudo. “Muitas vezes você tem que impor essa questão de respeitar o próximo para que, daqui um tempo, ela seja default [padrão]”.