Primeira bateria de escola de samba formada exclusivamente por mulheres estreia na Unidos de Padre Miguel

Batuque das Guerreiras tem 90 integrantes. Projeto começou a ser desenvolvido há um ano pela mestra de bateria Vivian Pitty.

Por Alba Valéria Mendonça, do G1

Devagar, devagarinho, elas começaram a se posicionar nas baterias das escolas de samba do Rio. Primeiro com chocalho, depois agogô, até chegar aos surdos de marcação. Mas é a partir deste domingo (3), num evento público, a partir das 13h, na quadra da Unidos de Padre Miguel, as ritmistas da Batuque das Guerreiras vão mostrar pela primeira vez o talento do grupo.

O grupo é uma bateria exclusivamente de mulheres e regida por uma mulher, a mestra Vivian Pitty. Com chocalho, tamborim, caixa, cuíca, repique, surdo e tudo mais que uma bateria de escola de samba tem direito.

A formação da Batuque das Guerreiras começou há cerca de um ano e já conta com 90 ritmistas. Uma boa parte delas – cerca de 50 mulheres – ainda está em treinamento. Por isso, a estreia no palco da Unidos de Padre Miguel ficará a cargo de 40 ritmistas mais experientes.

“A gente quer mostrar que mulher tem capacidade para desfilar onde ela quiser, inclusive num espaço majoritariamente masculino como é a bateria de uma escola de samba. Fácil não é, mas também não é impossível. Depois que pega o jeito, o samba flui muito bem. Tanto que a Batuque das Guerreiras tem ritmista da Mocidade, da Unidos de Vila Isabel, da Império Serrano, da Portela, da Estácio de Sá e da Unidos de Padre Miguel”, disse Vivian.

A mestra de bateria Vivian Pitty comanda a primeira bateria exclusivamente feminina do Rio (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Ritmista há 20 anos, Vivian começou tocando tamborim na escola mirim Estrelinha da Mocidade, aos 16 anos. Mas seu sonho era tocar caixa na famosa bateria Não Existe Mais Quente, da Mocidade Independente de Padre Miguel. Tanto insistiu, que em 2004, depois de passar por quatro testes, desfilou na bateria de mestre Coé.

“Fiz mais testes que os homens costumam fazer para desfilar, mas fui a primeira mulher a tocar caixa na bateria da Mocidade. Embora, hoje tenha mulheres em praticamente todas as baterias, ainda é muito difícil, por exemplo, formar uma fileira de dez mulheres no tamborim. Montar uma bateria não foi fácil, mas tem muita mulher talentosa por aí, que só está precisando de um incentivo”, disse a mestra.

Determinada a derrubar o preconceito, Vivian ingressou em 2005 na bateria da Unidos de Padre Miguel. Foi diretora de tamborins na Guerreiros, da UPM, e da Unidos de Bangu e da Bangay. E há um ano, com o apoio de mestre Dinho, da UPM, deu início ao projeto Batuque das Guerreiras.

Bateria exclusivamente de mulheres, a Batuque das Guerreiras, já tem seu próprio logo (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Ela não é a primeira mestra de bateria do Rio. A ritmista Thaís Rodrigues – que toca na Unidos da Tijuca e na Acadêmicos da Rocinha – comanda a bateria da Feitiço do Rio, que desfila na Intendente Magalhães, desde o carnaval de 2019. Mas é a primeira a formar uma bateria exclusivamente feminina .

Vivian diz que tocar numa bateria de escola de samba não tem mistério, tem dedicação. E resistência física.

Componente da UPM mostra ritmo e sincronismo perfeito no agogô também na Batuques das Guerreiras (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Chocalho, tamborim e agogô não são tão leves quanto se imagina. E como são instrumentos de frente da bateria, qualquer falha é logo notada. O agogô, por exemplo, tem quatro notas diferentes.

É preciso ser forte para aguentar o peso do surdo de marcação, como a ritmista da Portela e da Batuques das Guerreiras (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Os surdos são os instrumentos mais pesados, é verdade. Mas não há mistério na marcação. É preciso concentração para não perder o ritmo.

Mas para tocar caixa é preciso muita resistência física, porque é o instrumento que não para numa bateria.

“Agora, até as paradinhas são marcadas pela caixa. Ou seja, não para mesmo”, explicou Vivian.

Mulheres, como a “guerreira” da Estácio, precisam ter resistência para tocar caixa, que não para nem nas paradinhas da bateria (Foto: Reprodução/Redes sociais)

Por enquanto, a Batuque das Guerreiras vai participar apenas de eventos-shows, já que o grupo inteiro só consegue se reunir uma vez por mês para ensaiar. O sonho de Vivian – que já conta com o efetivo de quase 50% de uma bateria normal de escola de samba – é fazer com que as “guerreiras” desfilem todas juntas numa única escola. Mas nada de acelerar o ritmo.

“Estou muito feliz em ter meu trabalho, esse primeiro passo, reconhecido por mestre Dinho e pela Unidos de Padre Miguel. Poder ser a mestra de mulheres extremamente talentosas é algo incrível e ainda recebo esse presente no ano em que celebro 20 anos de carnaval”, disse Vivian.

As mulheres interessadas em participar da bateria podem fazer contato através das redes sociais da Batuque das Guerreiras. Ou ir direto à quadra da Unidos de Padre Miguel (Rua Mesquita, 8), em Padre Miguel, na Zona Oeste.

Os ensaios acontecem todas as segundas, a partir das 19h. É necessário apresentar apenas um documento com foto.

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