Primeira mulher a comandar uma UPP é uma das dez a ganhar prêmio internacional nos EUA

Ela é negra, corpo seco e musculoso, cabelos sempre presos num coque bem apertado e, de enfeites, apenas gloss e discretos brincos nas orelhas. Tem 1,65 metro e não deve pesar muito mais do que 60 quilos. Não fosse por uma certa dureza, logo notada, a major da Polícia Militar Pricilla, de 34 anos, poderia até ser descrita como uma mulher de aparência frágil. Engano. Depois de expulsar o tráfico do Morro Dona Marta, em Botafogo, como primeira comandante de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no Rio, ela ligou na terça-feira dos EUA, na hora do almoço, para contar ao secretário de Segurança, José Beltrame, outro feito. Meio sem jeito, disse que era uma das dez vencedoras do Prêmio Internacional Mulheres de Coragem 2012.

– Você é uma guerreira! – explodiu Beltrame ao telefone.

Não era para menos. Em 2008, ele colocara nas mãos de uma oficial da PM, ignorando resquícios machistas, o mais importante programa de segurança do governo.

Beltrame não esconde de ninguém a admiração que tem pela história de Pricilla de Oliveira Azevedo, de origem humilde, parecida com a dos moradores da comunidade que protegeu por três anos. No início, chegou a andar de fuzil pelas vielas. Depois da pacificação, adotou a pistola. Mas a arma da major sempre foi mesmo a conversa. Junto com a repreensão no olhar, era imbatível. Pode parecer politicamente correta, mas, dizem, que se transformava em operações policiais. Com a adrenalina, sobravam até palavrões.

Mulher coragem. O título faz sentido. Em 2007, ela sofreu um sequestro-relâmpago. Foi levada com uma arma enfiada na boca até uma favela em Niterói. Quando a identificaram como policial, ela apanhou. Na cara. E muito. Ficou cheia de hematomas. Mas conseguiu fugir. Catou um por um seus detratores; só falta um. Um dia chega o dia dele.

Estudante de direito, a major – que deixou até afilhados na favela; e quantas Pricillas sem S não nasceram depois de sua passagem por lá? – só saiu do Dona Marta para assumir o desafio de cuidar de todos os projetos estratégicos da pasta. Claro que o foco principal são as UPPs.

O prêmio é um luxo para Pricilla, evangélica da Assembleia de Deus, criada no subúrbio. Será entregue na quinta-feira, Dia Internacional da Mulher, pela secretária de estado americana, Hillary Clinton, em Washington. E terá como convidada especial ninguém menos que a primeira-dama Michelle Obama. Pricilla também deverá ser cumprimentada por Leymah Gbowee e Tawakkol Karman, que ganharam o Prêmio Nobel da Paz de 2011. O evento será no Auditório Dean Acheson do Departamento de Estado dos EUA. Em comum entre as premiadas, ações na área de direitos humanos, caso de Samar Badawi, ativista política da Arábia Saudita, ou de Hawa Abdallah Mohammed Salih, do Sudão.

Prova que Pricilla entrou na vida do Dona Marta definitivamente foi a reação do presidente da associação de moradores, José Mário, ao saber na terça-feira que ela ganhara o prêmio.

– Vou mandar um e-mail para ela agora mesmo – adiantou-se. – A Pricilla era durona, mas ganhou a gente se interessando de verdade pelos problemas das pessoas, conversando com pais para resgatar jovens do crime. Quando foi homenageada na quadra da favela, ela não segurou as lágrimas. Guardo até hoje, e acho que todo mundo do morro também, a imagem das crianças secando o rosto dela.

 

 

Fonte: Yahoo

+ sobre o tema

Governo sueco ‘responde’ a Trump com uma foto de mulheres do gabinete

Vice-primeira-ministra assina uma proposta ambiental rodeada por sete colaboradoras...

Só para meninas e só para meninos. Será?

A imposição dos estereótipos de gênero e a minha...

Chinês realiza sonho de mudança de sexo aos 72 anos

Um chinês de 72 anos decidiu que nunca é...

para lembrar

Bolsa de estudos Marielle Franco

O SIAPARTO tem o prazer de oferecer, em homenagem...

Acusado de homofobia, Ratinho é acionado pela Defensoria Pública

Órgão ofereceu denúncia administrativa contra o apresentador, após a...

330 mil domésticas perdem o registro

Número de trabalhadoras com carteira assinada caiu 1,6% desde...

“O Brasil ainda é extremamente colonial”

Grada Kilomba nasceu em Portugal, cresceu em São Tomé...
spot_imgspot_img

Prêmio Faz Diferença 2024: os finalistas na categoria Diversidade

Liderança feminina, Ana Fontes é a Chair do W20 Brasil, grupo oficial de engajamento do G20 em favor das mulheres. Desde 2017, quando a Austrália sediou...

Dona Ivone Lara, senhora da canção, é celebrada na passagem dos seus 104 anos

No próximo dia 13 comemora-se o Dia Nacional da Mulher Sambista, data consagrada ao nascimento da assistente social, cantora e compositora Yvonne Lara da Costa, nome...

Mulheres recebem 20% a menos que homens no Brasil

As mulheres brasileiras receberam salários, em média, 20,9% menores do que os homens em 2024 em mais de 53 mil estabelecimentos pesquisados com 100...
-+=