Trabalhadores começaram a ser retirados da mina onde estavam desde 5 de agosto
O Chile tirou na madrugada desta quarta-feira os primeiros dos 33 mineiros que ficaram dois meses presos centenas de metros sob a terra em uma mina no norte do país, dando início ao fim de um pesadelo que durou 68 dias e mobilizou a atenção de todo o mundo.
Pouco depois da meia-noite, o mineiro Florencio Ávalos foi o primeiro a sair da mina, em meio a aplausos e aos gritos de “Chi, Chi, Chile”. Ávalos abraçou Byron, seu filho de sete anos, e sua mulher, Mônica, e cumprimentou o presidente chileno, Sebastián Piñera, e funcionários do governo.
O presidente fez questão de saudar o sucesso da operação, que tem sido apresentado por ele como obra de seu governo.
– O primeiro mineiro já está conosco; abraçou sua esposa Mônica e seu filho Byron com uma ternura que nos comoveu.
Com boa aparência e mostrando tranquilidade, o mineiro foi colocado em uma maca e levado ao hospital de campanha montado na mina.
Casado e pai de dois filhos, Ávalos era o segundo na hierarquia do grupo de 33 mineiros, depois do chefe de turno, Luis Urzúa, que, segundo a ordem anunciada, deve ser o último a ser resgatado.
Um dos mineiros mais experientes do grupo, Ávalos, 31, iniciou a subida de 622 metros após a cápsula ser baixada ao fundo da mina levando o socorrista Manuel González.
Ávalos recebeu instruções de González, se despediu dos companheiros e colocou uma roupa especial, antes de entrar na cápsula e partir para uma viagem de 16 minutos rumo à superfície.
Mineiro, não artista
O segundo a sair da mina foi Mario Sepúlveda, 39, após a cápsula ser baixada com o socorrista Roberto Ríos, sargento da Marinha chilena.
Sepúlveda chegou à superfície com o humor de um chefe de torcida, abraçando diversas vezes o presidente Piñera, a primeira-dama e vários funcionários e membros da equipe de resgate.
O mineiro distribuiu várias rochas de lembrança para Piñera, o ministro da Mineração, Laurence Golborne, e outros presentes.
Após dar muitas risadas com o presidente e com os diversos funcionários que o receberam, Sepúlveda puxou a “torcida” aos gritos de “Chi, Chi, Chile”.
Finalmente, o mineiro foi obrigado a deitar em uma maca para ingressar no hospital de campanha, onde todos os resgatados passarão por exame.
Ele foi o primeiro a falar com a imprensa e disse que só quer voltar a ter uma vida normal.
– Não nos tratem como artistas. Quero que continue me tratando como um trabalhador, como um mineiro.
Sepúlveda fez grandes elogios ao governo, ao presidente e aos trabalhadores do resgate, mas também pediu “mudanças profundas” nas condições de trabalho no país.
O mineiro Juan Illanes, 52, terceiro a ser resgatado, chegou à superfície às 2h08. Casado, ele e é veterano de um conflito fronteiriço entre o Chile e Argentina, em 1978.
Fênix
A operação de resgate começou efetivamente às 23h20 (hora local e de Brasília) desta terça-feira (12), com a descida de Manuel González pelo duto, após Piñera lhe desejar pessoalmente “muito boa sorte” na boca do poço.
Os familiares dos mineiros aplaudiram e cantaram o hino nacional quando teve início a descida da cápsula Fenix 2, uma das três sondas desenvolvidas por uma empresa chilena, com ajuda da Nasa (agência espacial americana).
Dezesseis minutos depois, a cápsula de resgate chegou ao fundo da mina, e Manuel González foi recebido com abraços e aplausos pelos 33 mineiros, sendo também saudado pelo presidente.
– Este é um resgate que não tem paralelo na história da humanidade. Jamais haviam tentado um resgate assim.
O presidente afirmou que a “fé moveu montanhas” e que “a força e a coragem” dos mineiros e de todo o povo chileno “tornaram possível o milagre” do resgate.
Piñera lembrou o terremoto e tsunami que devastaram o país no início do ano e destacou a incrível capacidade e união e de reconstrução do povo chileno.
Depois foram resgatados o boliviano Carlos Mamani, 23, o único estrangeiro entre os mineiros. Ele deve receber a visita do presidente boliviano, Evo Morales, na manhã desta quarta-feira.
Grupos
Último do grupo dos “mais hábeis”, eleito para abrir o resgate, Jimmy Sánchez, de 19 anos, chegou à superfície, sob aplausos e gritos de felicitações, mas aparentando estar abatido e nervoso, mais do que seus quatro antecessores.
Pela ordem, o grupo seguinte é formado por aqueles que apresentam saúde mais fraca. Por fim, sairão os trabalhadores identificados como mais fortes. O último deve ser Luis Urzúa, de 54 anos, o líder do grupo de mineiros.
Primeiro do segundo grupo e sexto no total a ser resgatado, o mineiro Osman Araya, 30, chegou à superfície às 5h30 e deixou a cápsula de resgate aparentando leve tontura.
Casado, pai de quatro filhos, ele trabalhava há apenas quatro meses na mina San José quando aconteceu o acidente.
José Ojeda, de 46 anos, foi o sétimo trabalhador a chegar à superfície da mina, às 06h25. Ele foi o autor da mensagem escrita que, no dia 22 de agosto – 17 dias após o acidente -, levou esperança aos familiares.
– Estamos bem, no refúgio, todos os 33.
Os Estados Unidos saudaram o “notável” resgate e felicitaram o Chile pelo sucesso: “isto é um notável exemplo de esperança e habilidade”, segundo o porta-voz do departamento americano de Estado PJ Crowley.
O drama dos 33 mineiros começou no dia 5 de agosto passado, após um desabamento na mina San José, 800 quilômetros ao norte de Santiago.
O grupo ficou 17 dias sem contato com a superfície, até ser localizado por uma sonda a mais de 600 metros sob a terra.
O resgate total dos 33 mineiros exigirá entre 24 e 48 horas, segundo os socorristas.
Fonte: R7