Professor vira réu por racismo após comparar negras a cerveja escura

Advogado de docente do IFF destaca que acusação não corresponde à verdade

Por  JÚLIA COPLE, do O Globo 

Reprodução Facebook

Um professor do Instituto Federal Fluminense (IFF) virou réu em um processo motivado por racismo depois de ele comparar mulheres negras a uma cerveja de cor escura em postagem no Facebook. O Ministério Público Federal apresentou a denúncia à Justiça Federal em Campos dos Goytacazes, no Rio, e a 2ª Vara Federal da cidade indicou que há indícios suficientes para constatar o delito.

Na visão do MPF, o professor foi racista ao comparar a cerveja às mulheres negras e também ao sugerir que não possuiria apreço por afrodescendentes, mas abriria uma exceção para a cor da cerveja. “Pra ninguém achar que eu não gosto de afrodescendente. Nega gostosaaaaa!!!! Uh!!!! Foi mal”, publicou Lamonica na rede social em março do ano passado. Na foto, ele erguia um chope escuro na mão.

 A postagem desencadeou críticas de grupos defensores da igualdade racial e de alunos da instituição, que acionaram a Justiça. O advogado do réu, Amyr Moussalem, declarou que o docente não havia sido citado na denúncia até as 14h desta sexta-feira e que os “fatos da denúncia não correspondem à verdade”.

— Os fatos ocorridos não foram da forma como estão apresentados na denúncia. A defesa vai confrontar os fatos. Isso será provado no intercurso do processo. Não concordamos com a acusação de injúria racial muito menos com a de ato de racismo — destacou o defensor.

‘REPROVÁVEL’

Para o MPF, a expressão “Uh!!!! Foi mal” mostra que o autor pede desculpas e “deixa nítida a intenção de ironizar com o nítido cunho provocativo e a intenção de zombar de um determinado grupo” — neste caso, de pessoas negras.

O órgão considerou que a conduta racista e discriminatória é “ainda mais reprovável” quando veiculada na internet, em rede social que “vai além fronteiras nacionais”, e quando é expressa por um professor em contato com jovens em período de formação, alunos e ex-alunos.

O IFF informou ao GLOBO, por meio de nota, que tomou as medidas administrativas cabíveis em relação ao professor, sem detalhar quais.

 

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