Professora faz denúncia por racismo: ‘A macaca vai reprovar todo mundo’

Professora recebeu a publicação através de um ex-aluno via mensagem privada.

Por Juliana Steil, Do G1

Imagem: Geledés

A professora de sociologia Tânia Cristina dos Santos, de 51 anos, da Escola Estadual Professora Sylvia de Mello, em Praia Grande, no litoral de São Paulo, denunciou um aluno que a chamou de ‘macaca’ em uma publicação nas redes sociais.

A publicação, feita pelo aluno do 3º ano do Ensino Médio Gabriel Oscar da Silva Pereira, de 18 anos, mostrava uma imagem com a legenda: ‘A macaca de sociologia indo repetir todo mundo’ (sic). O texto foi publicado no dia 25 de outubro, mas a professora só tomou conhecimento da ação do aluno nesta semana.

Em entrevista ao G1, Tânia contou que ficou sabendo da publicação por meio de uma mensagem privada. “Me mandaram o link da publicação e eu vi. Não tenho ele adicionado”, contou. Ao ler o teor da publicação, a professora relata que ficou surpresa. “Não vou dizer que nunca sofri racismo. Mas, em toda a minha vida, nunca foi algo tão na cara dessa forma”.

Apesar de não citar seu nome diretamente, Tânia tem certeza de que ela é o alvo da ofensa com teor racista. “Sou a única professora de sociologia do ensino médio dessa escola, não tem outra pessoa”, aponta.

Imediatamente, ela procurou a Diretoria de Ensino para receber orientações sobre como proceder com o caso. “Me deram muito suporte e me incentivaram a registrar um boletim de ocorrência. Em nenhum momento tentaram abafar o caso”.

“Eu me senti desrespeitada como mãe, como trabalhadora e como pessoa. Sou uma professora exigente, mas não nego conhecimento para os meus alunos”, desabafa. “Sou uma mulher negra que lutou muito para chegar aonde estou”.

Um boletim de ocorrência de injúria racial foi registrado na Delegacia Sede de Praia Grande. De acordo com a professora, a escola está aguardando um posicionamento da Diretoria de Ensino para avaliar as ações cabíveis.

Procurada pelo G1, a Diretoria Regional de Ensino de São Vicente, que atende São Vicente, Praia Grande, Mongaguá, Itanhaém e Peruíbe, informou que é inadmissível que casos de discriminação aconteçam dentro ou fora do ambiente escolar. Um supervisor de ensino será encaminhado à unidade para acompanhar o caso.

Ainda de acordo com a diretoria, será aberta uma apuração sobre o fato e o Conselho de Escola irá se reunir para analisar quais medidas pedagógicas serão adotadas. A direção da Escola Estadual Professora Sylvia de Mello incluirá o caso na Plataforma Conviva (Placon) e intensificará ações de conscientização sobre respeito às diferenças.

A administração regional está prestando apoio à docente e está à disposição para qualquer esclarecimento. A Secretaria de Segurança Pública (SSP) informou, via nota, que a vítima foi ouvida quantos aos fatos publicados no dia 25/11 e orientada quanto ao prazo para representação criminal contra o autor.

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